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O custo da corrupção
Estudo da PF indica que superfaturamento em obras públicas consome quase 30% dos recursos e
é prática generalizada
NÃO É INCOMUM QUE autoridades brasileiras
rechacem os rankings
de corrupção divulgados anualmente pela Transparência Internacional por considerá-los imprecisos e falaciosos.
Além do fato de o país aparecer
em posições constrangedoras, os
critérios adotados pela organização não governamental são depreciados por seu aspecto subjetivo -não se trata de medir a corrupção, mas de aferir como os diversos governos são avaliados
neste quesito por analistas e homens de negócios.
No último sábado, relatório da
Polícia Federal, obtido pela Folha, conferiu alguma objetividade àquilo que nos rankings é apenas percepção. Levantamento
feito pelo Serviço de Perícias de
Engenharia e Meio Ambiente da
PF apontou superfaturamento
de cerca de R$ 700 milhões em
303 obras inspecionadas.
O trabalho conclui que de cada
R$ 100 desembolsados pelo poder público, R$ 29, em média, foram superfaturados. Ainda que
se levem em conta algumas ressalvas à inspeção, apontadas por
empresas, e o caráter por ora inconcluso da investigação, o resultado não deixa dúvida quanto
à gravidade do fenômeno.
Pelos quatro cantos do país, da
esfera federal à municipal, cerca
de 30% do dinheiro do contribuinte aplicado em prédios,
obras viárias, sistemas de esgoto,
portos e aeroportos pode escoar
pelo ralo da corrupção.
Em valores absolutos, Rio de
Janeiro, Goiás e São Paulo, nesta
ordem, lideram este novo ranking da dissipação de recursos
públicos, com um total de R$ 418
milhões. Embora tenham sido
periciadas no ano passado, as
obras em questão datam de períodos variados. Há contratos assinados de 1994 a 2009.
Nas palavras do diretor técnico-científico da PF, o estudo evidencia "uma prática de sobrepreço reinante", que irriga "diversos gabinetes e setores".
Note-se que o trabalho refere-se apenas a uma modalidade de
malversação. Além do superfaturamento, há, como se sabe, uma
miríade de artifícios criada pela
imaginação de políticos e governantes com o intuito de alimentar suas campanhas e contas
bancárias. Casos de fraudes em
concorrências, propinas, caixa
dois, comissões e pagamentos
por tráfico de influência são corriqueiros no noticiário político,
por vezes demasiadamente próximo da crônica policial.
A corrupção não é um mal que
aflige apenas a sociedade brasileira, mas é inegável que aqui os
desvios são incentivados pela
cultura da desinformação, do
compadrio e da impunidade.
Não será com instâncias de fiscalização ornamentais e casos encerrados sem punição que esse
quadro será modificado.
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