São Paulo, domingo, 09 de abril de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

O impeachment de Lula

RIO DE JANEIRO - A classe política, incluindo toda a oposição, a mídia e até mesmo alguns setores do governo, está fazendo um gigantesco laboratório para descolar o impeachment de Lula. Como um suculento leitão com maçã na boca, ele é o prato principal do bródio, mas, como não é simples assá-lo e trazê-lo à mesa, os convivas se contentam com os salgadinhos -alguns até que foram apetitosos, mas funcionaram como tira-gosto enquanto se aguarda o prato principal.
E aí temos o paradoxo. Nunca um presidente fez tanto para merecer um impeachment. Tudo. Dos casos mais modestos, como o do caseiro que derrubou um ministro, ao relatório do mensalão que não indicia nem a ele nem a seu filho, mas que é um libelo contra a sua forma de permitir e alimentar a corrupção de seu governo.
Já comentei a aparente solidão de Lula, hoje sem apoio da classe política, da mídia e do grosso do empresariado. E por que não o processo de impeachment, ameaçado a toda hora, mas não concretizado?
A resposta nem está nas pesquisas, que são voláteis, contraditórias e, em alguns casos, macetadas. A resposta é que o povo, o povo-povo, ainda não se convenceu de que Lula é o culpado maior de tudo de ruim que vem acontecendo. Para o homem comum brasileiro, Lula é o Lula, o homem que abraça qualquer um, bota qualquer chapéu na cabeça, torce pelo futebol, elogia-se pela vida que teve, acusa as oportunidades que não lhe deram e agora, no governo, apunhalado pelos políticos, pelos formadores de opinião, não pode ser o presidente boa praça que todos esperavam.
A menos que surja um fato novo que comprometa de forma irreversível a sua figura de "gente como a gente", vítima das serpentes que infestam a política, massacrado pela mídia, pelo grosso do que chamam por aí de "elites", o povo nem estará aí para a possibilidade de um impeachment que já devia estar em processo.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Pena pra todo lado
Próximo Texto: Antônio Ermírio de Moraes: Turismo: por que apenas 0,5% do mundial?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.