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CARLOS HEITOR CONY
O impeachment de Lula
RIO DE JANEIRO - A classe política,
incluindo toda a oposição, a mídia e
até mesmo alguns setores do governo,
está fazendo um gigantesco laboratório para descolar o impeachment de
Lula. Como um suculento leitão com
maçã na boca, ele é o prato principal
do bródio, mas, como não é simples
assá-lo e trazê-lo à mesa, os convivas
se contentam com os salgadinhos
-alguns até que foram apetitosos,
mas funcionaram como tira-gosto
enquanto se aguarda o prato principal.
E aí temos o paradoxo. Nunca um
presidente fez tanto para merecer um
impeachment. Tudo. Dos casos mais
modestos, como o do caseiro que derrubou um ministro, ao relatório do
mensalão que não indicia nem a ele
nem a seu filho, mas que é um libelo
contra a sua forma de permitir e alimentar a corrupção de seu governo.
Já comentei a aparente solidão de
Lula, hoje sem apoio da classe política, da mídia e do grosso do empresariado. E por que não o processo de
impeachment, ameaçado a toda hora, mas não concretizado?
A resposta nem está nas pesquisas,
que são voláteis, contraditórias e, em
alguns casos, macetadas. A resposta é
que o povo, o povo-povo, ainda não
se convenceu de que Lula é o culpado
maior de tudo de ruim que vem
acontecendo. Para o homem comum
brasileiro, Lula é o Lula, o homem
que abraça qualquer um, bota qualquer chapéu na cabeça, torce pelo futebol, elogia-se pela vida que teve,
acusa as oportunidades que não lhe
deram e agora, no governo, apunhalado pelos políticos, pelos formadores
de opinião, não pode ser o presidente
boa praça que todos esperavam.
A menos que surja um fato novo
que comprometa de forma irreversível a sua figura de "gente como a gente", vítima das serpentes que infestam a política, massacrado pela mídia, pelo grosso do que chamam por
aí de "elites", o povo nem estará aí
para a possibilidade de um impeachment que já devia estar em processo.
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