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O enigma peruano
A eleição de amanhã no Peru
tem especial interesse para o Brasil. A década que passou foi a do
"milagre peruano", que levou
muitas companhias brasileiras a
investir no país andino -agora
sob risco de resvalar em um período de instabilidade preocupante.
Na última década, o vizinho
cresceu em média 5,7% ao ano,
entre os melhores resultados na
América Latina. Se considerados
os últimos cinco anos, o desempenho sobe para 7% anuais.
O país vive boom de investimentos, impulsionado por um
conjunto de obras que somam
US$ 25 bilhões (R$ 39 bilhões).
Grandes empresas brasileiras já
participam ou planejam participar dos projetos. Seus investimentos são estimados em US$ 3,5 bilhões a US$ 5 bilhões e podem triplicar nos próximos anos.
Entre os principais candidatos,
nenhum advoga em público uma
ruptura no modelo econômico.
Mesmo assim, três dos cinco postulantes com chance de ir ao segundo turno defendem revogar
decretos do atual presidente, Alan
García, tidos como excessivos no
favorecimento ao setor privado.
Ollanta Humala lidera as pesquisas de intenção de voto. Comumente rotulado como "chavista",
abrandou as posições mais radicais, distanciou-se do modelo venezuelano e tem imitado a profissão de fé capitalista de Lula no
pleito presidencial de 2002, até
com a divulgação de uma apaziguadora "Carta aos Peruanos".
A disputa no Peru ganha relevância também pela ótica política.
O presidente García, a despeito do
progresso econômico, é aprovado
só por 26% da população e não
conta com candidato próprio.
O paradoxo explica-se, em parte, pela carência de políticas sociais distributivas de seu governo.
A parcela de peruanos na pobreza
caiu de 49% em 2004 para 35% em
2009, mas muitos camponeses e
índios se consideram excluídos do
ciclo acelerado de prosperidade.
Apesar do fracasso político de
García, três candidatos moderados anunciam como plataforma
eleitoral melhorar o que já vem
sendo feito: o ex-presidente Alejandro Toledo, seu ex-ministro e
empresário Pedro Pablo Kuczynski e o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda. Também concorre a conservadora Keiko Fujimori, filha do
ex-presidente Alberto Fujimori,
preso por corrupção.
O segundo turno, em junho, deve opor Humala a um desses candidatos (o cenário mais intranquilizador é que enfrente Fujimori). O
desafio do vencedor será manter o
círculo virtuoso da economia, mas
com inclusão da massa de desfavorecidos. O roteiro é conhecido,
mas não faltam armadilhas.
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