São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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O enigma peruano

A eleição de amanhã no Peru tem especial interesse para o Brasil. A década que passou foi a do "milagre peruano", que levou muitas companhias brasileiras a investir no país andino -agora sob risco de resvalar em um período de instabilidade preocupante.
Na última década, o vizinho cresceu em média 5,7% ao ano, entre os melhores resultados na América Latina. Se considerados os últimos cinco anos, o desempenho sobe para 7% anuais.
O país vive boom de investimentos, impulsionado por um conjunto de obras que somam US$ 25 bilhões (R$ 39 bilhões). Grandes empresas brasileiras já participam ou planejam participar dos projetos. Seus investimentos são estimados em US$ 3,5 bilhões a US$ 5 bilhões e podem triplicar nos próximos anos.
Entre os principais candidatos, nenhum advoga em público uma ruptura no modelo econômico. Mesmo assim, três dos cinco postulantes com chance de ir ao segundo turno defendem revogar decretos do atual presidente, Alan García, tidos como excessivos no favorecimento ao setor privado.
Ollanta Humala lidera as pesquisas de intenção de voto. Comumente rotulado como "chavista", abrandou as posições mais radicais, distanciou-se do modelo venezuelano e tem imitado a profissão de fé capitalista de Lula no pleito presidencial de 2002, até com a divulgação de uma apaziguadora "Carta aos Peruanos".
A disputa no Peru ganha relevância também pela ótica política. O presidente García, a despeito do progresso econômico, é aprovado só por 26% da população e não conta com candidato próprio.
O paradoxo explica-se, em parte, pela carência de políticas sociais distributivas de seu governo. A parcela de peruanos na pobreza caiu de 49% em 2004 para 35% em 2009, mas muitos camponeses e índios se consideram excluídos do ciclo acelerado de prosperidade.
Apesar do fracasso político de García, três candidatos moderados anunciam como plataforma eleitoral melhorar o que já vem sendo feito: o ex-presidente Alejandro Toledo, seu ex-ministro e empresário Pedro Pablo Kuczynski e o ex-prefeito de Lima Luis Castañeda. Também concorre a conservadora Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, preso por corrupção.
O segundo turno, em junho, deve opor Humala a um desses candidatos (o cenário mais intranquilizador é que enfrente Fujimori). O desafio do vencedor será manter o círculo virtuoso da economia, mas com inclusão da massa de desfavorecidos. O roteiro é conhecido, mas não faltam armadilhas.


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