São Paulo, sábado, 09 de abril de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil deve ratificar a China como economia de mercado?

NÃO

Quinquilharias ameaçam empregos no país

RICARDO PATAH

Do Natal ao Carnaval, só deu "quinquilharia chinesa" nos principais pontos de vendas de todo o país. Esses produtos, de qualidade duvidosa, chegam ao Brasil apoiados numa rede de distribuição agressiva, a ponto de criar novos hábitos de consumo e matar a eventual concorrência que teriam em nosso mercado interno.
Que o digam as empresas de plumas e paetês, que perderam 50% do mercado no Carnaval.
Essa concorrência predatória estará na pauta da presidente Dilma Rousseff na visita que fará à China.
Em encontro que teve com as centrais sindicais, no dia 11 de março, a presidente reconheceu que o Brasil importa produtos com qualidade duvidosa da China. Enquanto exporta commodities e acompanha uma drástica desindustrialização.
Dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) indicam que, desde 2008, tal processo já provocou o fechamento de 46 mil vagas na indústria. Isso significa que perdemos mais de 100 mil empregos diretos e indiretos, o que é muito preocupante, pois precisamos gerar mais de 2 milhões de vagas, todos os anos, para absorver a massa de trabalhadores que chega ao mercado.
Nos anos 1980, a indústria, em média, representava 27% do PIB.
Hoje, está em torno de 16%, uma queda muito rápida em pouco tempo. A constatação é do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Dados do IBGE mostram que o emprego industrial está estagnado. Nos últimos meses, inclusive, a variação foi zero.
Nas conversas que a presidente Dilma terá com seu colega chinês, é importante que seja reafirmada nossa parceria com a China, que se tornou uma das principais aliadas comerciais do país.
Mas afirmamos que ainda não é o momento de reconhecer aquele país como uma economia de mercado, pois a concorrência chinesa é desleal. E a UGT (União Geral dos Trabalhadores) defende que as "quinquilharias chinesas" não podem ser comercializadas no Brasil com preços mais baixos do que o seu próprio custo.
O momento é importante para o governo resgatar o vigor da indústria. Isso, com certeza, vai ajudar o Brasil a superar a sina de sermos exportadores de commodities e importadores de manufaturados, que vem desde os tempos coloniais.
Hoje, por exemplo, exportamos minério de ferro e importamos, da China, trilhos para nossas ferrovias. Para cada tonelada de minério necessário à produção dos mesmos trilhos, recebemos algo em torno de R$ 231, mas pagamos aos chineses R$ 1.415. E ainda deixamos na China empregos que poderiam ser criados aqui mesmo.
Todos nós sabemos que as tão sonhadas produtividade e competitividade industrial não surgirão por decreto. Mas avançarão, acreditamos, com o aumento da defesa comercial, a melhora no gerenciamento do câmbio e a reforma tributária, que realimenta as campanhas políticas, mas não é feita.
O controle alfandegário das fronteiras e dos portos também precisa ser aprimorado, pois é por aí que entram os "importados" sem pagar impostos ao Brasil.
A UGT está disposta a discutir o custo Brasil, que envolve um debate sério e sem preconceitos. Nessa discussão está inserido também o custo da produção, mas nós estaremos sempre atentos aos direitos trabalhistas.

RICARDO PATAH é presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores) e presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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