São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

Palavras são palavras?

BRASÍLIA - De Lula, à revista "Caros Amigos", em novembro de 2000: "Se eu ganhar a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferia que Deus me tirasse a vida antes. Para não passar vergonha".
Do mesmo Lula, na última quarta, em discurso em Rio Verde (GO): "No Brasil, nós não estamos precisando de uma invenção. Estamos precisando cumprir as nossas palavras".
Palavras são palavras, e na prática tudo é diferente? Deve ser, porque o Lula que falou tudo isso é o mesmo que repete o governo FHC no essencial: na política econômica ortodoxa. E que, na campanha, prometeu dobrar o salário mínimo em quatro anos. Mas, no governo, deu neste ano um aumento mínimo do mínimo. Aliás, repetindo o que FHC fazia.
Diz um ditado que "quem fala demais engole mosca". É por isso -para não engolir moscas, não falar besteiras e não prometer o que não vai cumprir- que Lula precisa fechar mais a boca nos seus pronunciamentos e metáforas. (além, cá pra nós, de filtrar melhor a agenda. Não dá para inaugurar até ambulância velha...).
Eis o principal equívoco: palavras de presidentes não são apenas palavras. São compromissos. E vão ser cobrados, mais dia, menos dia.
Na mesma entrevista à "Caros Amigos", Lula acrescentou: "Tem gente que tem o direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada na minha vida, que é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a gente assume".
A questão, agora, não é apenas de olhar nos olhos dos "companheiros", mas dos milhões de brasileiros que não querem promessas, mas ação. E que querem menos ainda promessas para não serem cumpridas. Tipo "Fome Zero" e "dobrar o salário mínimo". Hoje, são eles que cobram. Amanhã, será a história.
PS - Como ninguém é de ferro, estou saindo de férias. Até a volta!



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