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ELIANE CANTANHÊDE
Palavras são palavras?
BRASÍLIA - De Lula, à revista "Caros Amigos", em novembro de 2000: "Se
eu ganhar a Presidência para fazer o
mesmo que o Fernando Henrique
Cardoso está fazendo, preferia que
Deus me tirasse a vida antes. Para
não passar vergonha".
Do mesmo Lula, na última quarta,
em discurso em Rio Verde (GO): "No
Brasil, nós não estamos precisando
de uma invenção. Estamos precisando cumprir as nossas palavras".
Palavras são palavras, e na prática
tudo é diferente? Deve ser, porque o
Lula que falou tudo isso é o mesmo
que repete o governo FHC no essencial: na política econômica ortodoxa.
E que, na campanha, prometeu dobrar o salário mínimo em quatro
anos. Mas, no governo, deu neste ano
um aumento mínimo do mínimo.
Aliás, repetindo o que FHC fazia.
Diz um ditado que "quem fala demais engole mosca". É por isso -para não engolir moscas, não falar besteiras e não prometer o que não vai
cumprir- que Lula precisa fechar
mais a boca nos seus pronunciamentos e metáforas. (além, cá pra nós, de
filtrar melhor a agenda. Não dá para
inaugurar até ambulância velha...).
Eis o principal equívoco: palavras
de presidentes não são apenas palavras. São compromissos. E vão ser cobrados, mais dia, menos dia.
Na mesma entrevista à "Caros
Amigos", Lula acrescentou: "Tem
gente que tem o direito de mentir, o
direito de enganar. Eu não tenho. Há
uma coisa que tenho como sagrada
na minha vida, que é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a
gente assume".
A questão, agora, não é apenas de
olhar nos olhos dos "companheiros",
mas dos milhões de brasileiros que
não querem promessas, mas ação. E
que querem menos ainda promessas
para não serem cumpridas. Tipo "Fome Zero" e "dobrar o salário mínimo". Hoje, são eles que cobram.
Amanhã, será a história.
PS - Como ninguém é de ferro, estou saindo de férias. Até a volta!
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