|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BOLA PERDIDA
Em mais um episódio da vida
nacional em que o discurso do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
vai numa direção e as ações de seu
governo seguem por outra, foi anunciada no Palácio do Planalto a criação
da loteria Timemania, com o intuito
de sanear as dívidas dos clubes de futebol com a Receita Federal, o INSS e
o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS).
Na ocasião, o presidente afirmou
que é preciso "mudar o comportamento dos nossos dirigentes", conter o êxodo de jovens atletas para o
exterior e transformar o futebol em
espetáculo para a família. Seria muito difícil encontrar alguém, entre os
incontáveis brasileiros que se interessam pelo esporte, que discordasse desses objetivos.
No entanto, o lançamento da Timemania -e de dois projetos de lei
com vistas a reformular a legislação
esportiva- perdeu a oportunidade
de criar contrapartidas legais que induzissem à indispensável mudança
do "statu quo" gerencial dessa atividade que hoje se insere numa bilionária indústria do entretenimento,
mas permanece, no Brasil, administrada de maneira semi-amadorística
e, em muitos casos, temerária.
A exemplo do que se passa em outras áreas, também o Ministério do
Esporte deixou pelo caminho as promessas de mudanças de fundo, preferindo a via acomodatícia, que atende exatamente aos interesses daqueles de quem o primeiro mandatário
cobra retoricamente novas atitudes.
O comportamento dos dirigentes
de futebol não vai mudar por obra do
discurso de Lula, muito menos do
providencial atestado de adimplência que a Timemania poderá lhes
conferir, mas sim com exigências legais que definam um novo marco regulatório esportivo, baseado na responsabilização dos gestores dentro
de um regime empresarial.
Essa oportunidade, lamentavelmente, o governo petista acaba de
perder. Resta esperar que o Congresso Nacional perceba a dimensão do
equívoco e trabalhe para saná-lo.
Texto Anterior: Editoriais: SINAIS DE DESACELERAÇÃO Próximo Texto: Editoriais: COMBATE À MALÁRIA Índice
|