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CARLOS HEITOR CONY
Ticos-ticos no fubá
RIO DE JANEIRO - Não sei como vai terminar (se é que vai terminar mesmo) a briga do governo com o Severino a propósito da agenda da Câmara
dos Deputados. Fatalmente haverá
barganha, o tradicional, o inevitável
toma lá dá cá. Mas a razão está com
Severino, por mais que o critiquem e
esculhambem por ser um político fora do esquadro, politicamente incorreto, odiado e debochado pela mídia.
Não vem ao caso discutir os motivos reais e pessoais pelos quais ele decidiu comprar a briga contra as medidas provisórias que além de entravar a Câmara, paralisando-a há
quase um mês, são uma aberração,
uma exorbitância do Executivo, e
não deixam de ser uma disfarçada
manifestação de autoritarismo.
Sabemos que as MPs foram criadas
para enfrentar problemas relevantes
e urgentes. Tudo bem. Em qualquer
país democrático, de uma forma ou
outra, com esse ou aquele nome, elas
existem para enfrentar calamidades
ou emergências administrativas.
Mas o caso brasileiro é diferente.
Elas dão a cada governo (e FHC abusou delas como Lula está abusando)
o poder autoritário do decreto-lei que
é o atributo fundamental das ditaduras, das tiranias de esquerda ou direita.
É pasmosa a relação das últimas
medidas provisórias solicitadas pelo
governo ao Congresso. Uma delas foi
sobre o fubá e não beneficia sequer os
ticos-ticos, que sabidamente o apreciam.
Anuncia-se que Lula e sua equipe
estão dispostos a dobrar a obstinação
de Severino e a resistência de grande
parte da Câmara. Farão tudo em troca da continuidade do processo, ou
seja, governar por decretos-leis ou
por MPs, que dão na mesma.
A resistência de Severino fatalmente terá um preço, e é com esta possibilidade, realmente possível, que os
aliados do governo estão jogando. Infelizmente, a opinião pública ainda
não despertou para a distorção operacional que entrava projetos de
maior relevância, como algumas reformas transformadas em ticos-ticos
bloqueados no fubá.
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