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CLÓVIS ROSSI
O governo que aperta o "enter"
PARIS - Alguém aí se surpreendeu
com a manchete de ontem desta
Folha informando que "metade do
PAC está lenta", segundo o próprio
governo? Se se surpreendeu, só pode ter sido pela palavra "metade". O
ritmo usual do governo indicaria
mais lerdeza ainda maior.
O fato é o seguinte: o governo Lula apenas aperta o "enter" e deixa o
programa rodar automaticamente,
até aparecer a tela de entrada do
Windows ou de similar.
Na área econômica, apertou, de
cara, o "enter" dos juros altos, seguindo o bê-á-bá. Continua seguindo o bê-á-bá, agora com as reduções
homeopáticas dos juros. Criar um
"programa" novo, não.
Na véspera do segundo turno, em
outubro passado, Guido Mantega,
ministro da Fazenda, tomou café da
manhã comigo no hotel em que se
hospeda em Brasília. Disse-me que
o governo induziria uma redução
maior dos juros de forma a levá-los
até o fim do ano a 5% reais, 9% nominais (para uma inflação, portanto, de 4%).
Induziu? Nada. Ganhou o "enter"
de Henrique Meirelles. Câmbio?
Idem. Mantega até já confessou que
não há nada a fazer ante a valorização do real.
Política fiscal? De novo, clicou o
"enter" (superávit elevado) que vinha do governo anterior.
PAC? Aí, sim, tinha que apertar
outra tecla para obter outro resultado. Mas vem Dilma Rousseff e
confessa que não consegue gastar.
Ou seja, o "enter" do superávit fiscal funciona. Mas apertar outra tecla funciona pouco ou nada.
O melhor de tudo é que dá mais
ou menos certo. O crescimento é
lento (como o PAC), mas existe, e
com inflação muito baixa. A tragédia social não mudou muito, mas
tampouco se agravou, e assim o
Brasil vai vivendo a mediocridade
típica da terrinha.
Depois há quem se queixe da desmoralização da política. Se é só para
apertar o "enter", para que políticos, líderes, presidentes?
crossi@uol.com.br
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