São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O governo que aperta o "enter"

PARIS - Alguém aí se surpreendeu com a manchete de ontem desta Folha informando que "metade do PAC está lenta", segundo o próprio governo? Se se surpreendeu, só pode ter sido pela palavra "metade". O ritmo usual do governo indicaria mais lerdeza ainda maior.
O fato é o seguinte: o governo Lula apenas aperta o "enter" e deixa o programa rodar automaticamente, até aparecer a tela de entrada do Windows ou de similar.
Na área econômica, apertou, de cara, o "enter" dos juros altos, seguindo o bê-á-bá. Continua seguindo o bê-á-bá, agora com as reduções homeopáticas dos juros. Criar um "programa" novo, não.
Na véspera do segundo turno, em outubro passado, Guido Mantega, ministro da Fazenda, tomou café da manhã comigo no hotel em que se hospeda em Brasília. Disse-me que o governo induziria uma redução maior dos juros de forma a levá-los até o fim do ano a 5% reais, 9% nominais (para uma inflação, portanto, de 4%).
Induziu? Nada. Ganhou o "enter" de Henrique Meirelles. Câmbio?
Idem. Mantega até já confessou que não há nada a fazer ante a valorização do real.
Política fiscal? De novo, clicou o "enter" (superávit elevado) que vinha do governo anterior.
PAC? Aí, sim, tinha que apertar outra tecla para obter outro resultado. Mas vem Dilma Rousseff e confessa que não consegue gastar.
Ou seja, o "enter" do superávit fiscal funciona. Mas apertar outra tecla funciona pouco ou nada. O melhor de tudo é que dá mais ou menos certo. O crescimento é lento (como o PAC), mas existe, e com inflação muito baixa. A tragédia social não mudou muito, mas tampouco se agravou, e assim o Brasil vai vivendo a mediocridade típica da terrinha.
Depois há quem se queixe da desmoralização da política. Se é só para apertar o "enter", para que políticos, líderes, presidentes?


crossi@uol.com.br

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