São Paulo, quarta-feira, 09 de maio de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Bem-vindo, Bento 16!

RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS

O papa vem para dizer-nos que o amor inspirado em Jesus Cristo é caminho para a realização dos anseios de justiça, solidariedade e paz

HOJE, SUA Santidade, o papa Bento 16, chega ao Brasil para inaugurar a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. É o segundo papa que o Brasil terá a honra e a alegria de receber.
Quem é Bento 16, o homem que assumiu o serviço de pastor da Igreja Católica? Joseph Ratzinger é seu nome de batismo. Nasceu em 16 de abril de 1927, na cidade de Marktl am Inn, no sul da Alemanha. Seu pai era comissário de polícia; sua mãe, cozinheira de um hotel. Ratzinger enfrentou tempos difíceis na juventude, sobretudo no período da Segunda Guerra Mundial, quando o regime nazista dominava a Alemanha e alimentava um clima de hostilidade contra a Igreja Católica.
O jovem Joseph presenciou atos de horror praticados contra os opositores do regime e chegou a ser convocado, no final da guerra, para prestar serviços auxiliares antiaéreos. Nessa situação difícil, descobriu a beleza e a verdade da fé em Jesus Cristo, experiência que o marcará por toda a vida.
A ordenação sacerdotal, ele a recebeu em 1951. Participou, como consultor teológico do cardeal de Colônia, Joseph Frings, do Concílio Vaticano 2º (1962-65) e prestou notável contribuição àquela assembléia episcopal. Foi ordenado bispo em 1977, ano em que o papa Paulo 6º o nomeou arcebispo e cardeal de Munique.
Em 19 de abril de 2005, em um dos conclaves mais breves da história da igreja, foi eleito papa pelo colégio dos cardeais, no quarto escrutínio. É o 265º sucessor de Pedro na cátedra de Roma. Ao apresentar-se à multidão reunida na praça de São Pedro, no dia de sua eleição, Bento 16 se definiu como "um simples e humilde trabalhador da vinha do Senhor".
Quando escolheu Pedro para ser chefe dos apóstolos, isto é, o primeiro papa, Jesus lhe dirigiu estas palavras: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha igreja" (Mt 16,18).
Essas mesmas palavras, ditas ao humilde pescador da Galiléia no lago de Tiberíades, foram repetidas por Jesus a Bento 16 no momento em que o colégio dos cardeais o elegeu papa e ele aceitou a indicação.
Para a igreja, Pedro é, hoje, Bento 16. Como Pedro nos tempos apostólicos, ele preside a igreja no serviço e na caridade e é o princípio e o fundamento visível da unidade da fé.
Nos dois primeiros anos de pontificado -que agora se completam-, Bento 16 já deu à igreja e à humanidade dois documentos doutrinais e pastorais de grande destaque: a Carta Encíclica "Deus é Amor" e a exortação apostólica pós-sinodal "A Eucaristia, Sacramento da Caridade".
O tema da primeira Carta Encíclica é o amor, centro da vida cristã e que, no dizer de Bento 16, "se torna o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade duma vida humana" (nº 15). Por ser documento inaugural do governo de Bento 16, define a linha de seu pensamento, bem como, por conseqüência, determina os contornos do pontificado.
O amor é, por sinal, no dizer do cardeal Angelo Scola, um dos temas cruciais no qual se joga o futuro da igreja e da humanidade.
De fato, conforme escreveu Bento 16 na Carta Encíclica antes mencionada (nº 2), "o termo "amor" se tornou hoje uma das palavras mais usadas e mesmo abusadas, à qual associamos significados completamente diferentes". Na encíclica, o papa discorre sobre o tema de maneira profunda e remove os equívocos existentes sobre o assunto, demonstrando que as duas dimensões do amor, eros e ágape, longe de se contraporem, se iluminam reciprocamente. Para ser verdadeiro, o amor deve ser capaz de se doar até o sacrifício da própria vida.
Bento 16, como pastor da igreja, vem ao Brasil para testemunhar pessoalmente seu amor por nosso povo. Vem ao encontro da expressiva parcela do rebanho de Cristo que se encontra na América Latina, particularmente no Brasil, em obediência à missão que Jesus conferiu a Pedro e aos seus sucessores: "Apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21, 15-16).
O papa vem até nós, enfim, para nos confirmar na fé em Jesus Cristo. Vem para dizer-nos que o amor inspirado em Jesus Cristo crucificado e transformado em obras em favor dos mais pobres é caminho para a realização, na América Latina e no Brasil, dos profundos anseios de justiça, de solidariedade e de paz.


DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS, arcebispo de Aparecida (SP), é o anfitrião do papa no Brasil. Foi secretário-geral do Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano) de 1991 a 1995 e secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) entre 1995 e 1998 e entre 1999 e 2003.

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