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CLÓVIS ROSSI
Primárias e silêncios
SÃO PAULO - O modelo norte-americano de primárias para definir candidatos pode ter um milhão
de defeitos, mas, certamente, é o
melhor ou, no mínimo, o menos
ruim dos métodos até agora inventados, seja no mundo rico, seja entre os países em desenvolvimento.
Como diz Lluís Bassets, colunista
de "El País", "as primárias nos dizem que é possível contar com sistemas mais abertos, nos quais a indeterminação e os vai-e-vens não se
traduzem em instabilidade política,
mas em legitimidade".
É claro que Bassets deve estar
pensando no sistema espanhol,
que, apesar de ter uma participação
mais ativa da militância, continua
sendo basicamente uma questão
restrita às cúpulas partidárias. No
Brasil, então, nem se fala. Militância, primeiro, é pouca, e, segundo, é
chamada mais para sacramentar
decisões da cúpula do que para participar delas.
Até hoje, por exemplo, ninguém
do PSDB se deu ao trabalho de explicar ao distinto público porque
Geraldo Alckmin era, em 2006, melhor candidato à Presidência do que
José Serra. Não estou dizendo que
não o fosse ou que o fosse, não é
problema meu. É que, no modelo de
primárias, todo candidato a candidato é obrigado a prestar contas
primeiro ao público interno (de seu
partido) antes de apresentar-se ao
conjunto do eleitorado.
Portanto, a regra do jogo é que ele
diga porque é melhor que o outro
(ou outros). Fazê-lo está no caderno de obrigações de qualquer pretendente, quase diria no DNA dele e
do partido.
No Brasil, é palavrão até "bater
chapa" (o jargão para disputa na
convenção, o organismo ao qual cabe oficialmente definir candidatos),
mesmo sabendo-se que a disputa
convencional não implica necessariamente a maratona de prestação
de contas que as primárias acabam
sendo nos EUA.
É claro que o teor de democracia
sai enriquecido.
crossi@uol.com.br
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