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SINALIZAÇÃO DO BC
Conduzir a política monetária
exige, além de sólido embasamento técnico, sensibilidade para interpretar indicadores e humores,
bem como capacidade de comunicação. Com freqüência cabe à autoridade monetária manter alguma dose de
ambigüidade em relação a seus objetivos -mas se a ambigüidade se torna excessiva ela pode prejudicar a eficácia da política monetária e, portanto, o desempenho da economia.
Há risco de que isso esteja ocorrendo neste momento na economia brasileira. Embora o Banco Central (BC)
já tenha reconhecido que as altas do
petróleo e de outras commodities
têm pressionado a inflação, ele ainda
não sinalizou de maneira clara até
que ponto admite estender no tempo, para acomodar esse choque de
custos, a convergência da inflação às
metas estabelecidas.
Há muito esta Folha vem argumentando que a meta fixada para o presente ano -limitar a alta do IPCA a
5,5%- é excessivamente ambiciosa,
e que seria muito difícil cumpri-la à
risca sem provocar sacrifício desnecessário da atividade econômica. A
esta altura do ano, não cabe discutir a
revisão da meta, mas sim até que
ponto o BC admitirá inflação maior.
A política de metas comporta divergência de até 2,5 pontos percentuais
da taxa de inflação observada em relação àquela definida como meta. A
expectativa atual de bancos e consultorias é de que o IPCA feche o ano
com alta da ordem de 6,6% -o que,
portanto, não caracterizaria o descumprimento da meta anual.
Não parece estar suficientemente
claro, no entanto, se a diretoria do
BC se sente confortável com a perspectiva identificada pelos analistas
do mercado. Logo, não está claro se
o BC avaliará que há espaço para reduzir os juros, e em que medida. A rigor, para tentar cumprir à risca a meta de 2004 ele provavelmente teria de
aumentar a taxa básica.
Há quem identifique nessa falta de
clareza um dos ingredientes que
contribuem para a elevação das taxas
de juros embutidas nos contratos futuros, a qual, ao encarecer o crédito,
prejudica a atividade produtiva. Uma
sinalização mais clara do BC seria,
por isso, bem-vinda.
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