São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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SINALIZAÇÃO DO BC

Conduzir a política monetária exige, além de sólido embasamento técnico, sensibilidade para interpretar indicadores e humores, bem como capacidade de comunicação. Com freqüência cabe à autoridade monetária manter alguma dose de ambigüidade em relação a seus objetivos -mas se a ambigüidade se torna excessiva ela pode prejudicar a eficácia da política monetária e, portanto, o desempenho da economia.
Há risco de que isso esteja ocorrendo neste momento na economia brasileira. Embora o Banco Central (BC) já tenha reconhecido que as altas do petróleo e de outras commodities têm pressionado a inflação, ele ainda não sinalizou de maneira clara até que ponto admite estender no tempo, para acomodar esse choque de custos, a convergência da inflação às metas estabelecidas.
Há muito esta Folha vem argumentando que a meta fixada para o presente ano -limitar a alta do IPCA a 5,5%- é excessivamente ambiciosa, e que seria muito difícil cumpri-la à risca sem provocar sacrifício desnecessário da atividade econômica. A esta altura do ano, não cabe discutir a revisão da meta, mas sim até que ponto o BC admitirá inflação maior.
A política de metas comporta divergência de até 2,5 pontos percentuais da taxa de inflação observada em relação àquela definida como meta. A expectativa atual de bancos e consultorias é de que o IPCA feche o ano com alta da ordem de 6,6% -o que, portanto, não caracterizaria o descumprimento da meta anual.
Não parece estar suficientemente claro, no entanto, se a diretoria do BC se sente confortável com a perspectiva identificada pelos analistas do mercado. Logo, não está claro se o BC avaliará que há espaço para reduzir os juros, e em que medida. A rigor, para tentar cumprir à risca a meta de 2004 ele provavelmente teria de aumentar a taxa básica.
Há quem identifique nessa falta de clareza um dos ingredientes que contribuem para a elevação das taxas de juros embutidas nos contratos futuros, a qual, ao encarecer o crédito, prejudica a atividade produtiva. Uma sinalização mais clara do BC seria, por isso, bem-vinda.


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