São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2010

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Ecos de Honduras

É preciso que Honduras se reintegre à Organização dos Estados Americanos. Sua participação na entidade foi suspensa desde a expulsão ilegal do país, por militares, do então presidente Manuel Zelaya, em junho de 2009.
A reversão da medida chancelaria, afinal, a única saída legítima e aceitável encontrada para a longa crise que se seguiu. Ela veio na forma de votos, com o processo eleitoral responsável por conduzir ao poder, no final do ano passado, o atual mandatário, Porfirio Lobo.
As diplomacias de diversos países latino-americanos, Itamaraty à frente, têm resistido a essa solução. Não reconhecem o atual governo hondurenho. Já haviam rejeitado o pleito negociado pelos EUA, por não aceitarem que o processo fosse conduzido pelas mesmas forças que depuseram Zelaya.
Embora a posição dos governos da região se baseasse em princípios defensáveis, ela terminou por fechar os olhos para a situação política real de Honduras -e poderia ter conduzido a um impasse ainda mais duradouro e contraproducente, não fosse pela intervenção norte-americana.
Novo impasse parece agora se desenhar na própria OEA. Os EUA pedem a reintegração imediata de Tegucigalpa à organização continental. A maioria dos países sul-americanos impõe condições para aceitar o retorno.
Insistem em novas garantias para que Zelaya possa retornar a Honduras. Mas o próprio mandatário deposto teme fazê-lo -diz não confiar nos juízes "golpistas" que poderiam condená-lo por acusações de atos de corrupção durante seu governo.
Aferrar-se ao ex-presidente parece ser, mais uma vez, o melhor caminho para não avançar. Ao mesmo tempo, é de se reconhecer que nem tudo foi resolvido com a eleição do novo governo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA, tem chamado atenção para assassinatos e sequestros de ativistas contrários à deposição de Zelaya -e juízes que se opuseram a sua expulsão do país se viram destituídos.
Parece oportuna, nesse cenário, a proposta do presidente da entidade, José Miguel Insulza, de criar uma comissão independente para avaliar a situação política de Honduras e encaminhar a reintegração do país à OEA.
Poderia servir como foro para negociar com o governo Lobo compromissos com valores democráticos em contrapartida à reintegração política do país ao continente -conclusão dessa crise que já consumiu tempo em demasia.


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