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ANTONIO DELFIM NETTO
Controvérsia
Levantamento feito pelas
competentes jornalistas Ângela Bittencourt e Lucinda Pinto
("Valor Econômico", 4/6) com
31 importantes analistas do
sistema financeiro revelou
que, para o Copom de hoje, 9
entre cada 10 estimavam um
aumento de 0,75% da taxa Selic. O outro esperava 1%!
Tal unanimidade se devia
provavelmente à estimativa
do crescimento entre 2,5% e
3% do PIB do primeiro trimestre de 2010 contra o último de
2009, que afinal se confirmou
em 2,7%.
É verdade que teremos uma
safra 2009/10 melhor que a
anterior e com aumento da
produtividade, que a produção industrial está chegando
ao "pico" alcançado antes da
crise, que foram feitos investimentos que estão maturando
e que existe uma escassez de
mão de obra especializada,
mas sem resultar em aumento
dos salários reais acima da
produtividade.
Apesar dos gargalos da infraestrutura, parece claro que
podemos crescer entre 5% e
6% sem maiores pressões inflacionárias.
A dificuldade do Banco
Central é que as pressões inflacionárias são sorrateiras e a
credibilidade da política de
metas depende do seu sucesso. No último quinquênio, a
"meta" foi de 4,5% ao ano, e a
inflação realizada, de 4,7%, o
que certamente é um sucesso.
Os Bancos Centrais são normalmente conservadores.
Tendem a subestimar o famoso "PIB potencial" e a superestimar a taxa neutra de desemprego e a taxa de juro real de
equilíbrio para garantir sua
credibilidade.
No Brasil, o caso é grave: depois de longas lutas e derrotas, o Banco Central concede
que o tal PIB potencial talvez
esteja entre 4,5% e 5%, mas
garante que a taxa de juro real
de equilíbrio está entre 7% e
8%, tão teratológica quanto
sua estimativa de que a taxa
de desemprego mínima para
domesticar o mercado de trabalho deva ser de 7% a 8%.
O último "Boletim Focus"
(4/6) mostra que o mercado financeiro espera uma taxa de
inflação de 4,8% e uma taxa
de crescimento de 4,5% para
2011, depois da elevação do juro esperada para 2010.
Qual é a taxa de juro real esperada pelos analistas acima?
Os mais comedidos (16% deles) esperam a Selic de 11,50%
no final de 2010 e, portanto,
uma taxa de juro real de 6,4%;
os que esperam a Selic entre
11,51% e 12% (39% dos informantes), 6,6%; de 12,01% a
12,50% (32% dos informantes), 7,10%; e de 12,51% a
13,00% (13% dos informantes), 7,6%. Estão todos bem
domesticados pela credibilidade dos modelitos do Banco
Central!
Mas há controvérsia. O setor
privado brasileiro há de ser
muito produtivo para gestar
um robusto crescimento pagando a maior taxa real de juros do universo e suportar a
supervalorização do real dela
decorrente.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@uol.com.br
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