São Paulo, sábado, 09 de julho de 2011

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RUY CASTRO

Paixão por sorvete

RIO DE JANEIRO - Leio em Comida (30/6) que o sorveteiro italiano Sergio Dondoli, "bicampeão mundial da especialidade", virá ao Brasil no verão para dar cursos sobre sua arte. A notícia fala de uma "Copa do Mundo do sorvete" -que Dondoli venceu duas vezes- com a familiaridade de quem se refere ao mundial de pelota basca, marcha atlética ou nado sincronizado.
Quer dizer que se disputam Copas do Mundo do sorvete? Que maravilha. Eu não sabia. Onde, quando e com que regularidade? E como são as regras? Numa cozinha em forma de estádio, os sorveteiros criam suas maravilhas e uma comissão de provadores experimenta uma atrás da outra, enquanto a torcida lambe os beiços na arquibancada? Ou distribuem pazinhas com amostras para a galera?
Haverá uma divisão por categorias? Um sorvete de pistache pode disputar com um de avelã ou um de café com outro de chocolate? Ou a competição se dá pelo grau de originalidade de cada sorveteiro? Neste caso, é fácil imaginar por que Dondoli ganha sempre -seus sorvetes são combinações exóticas de framboesa com lavanda, amora com alecrim, nozes com gorgonzola.
Em comum com Orson Welles, Charles Mingus e Marlon Brando, tenho a paixão por sorvete e o peso em três dígitos, mais ou menos nesta ordem. Calculo que, nos últimos 23 anos, a uma média de três bolas por dia, consumi cerca de mil bolas de sorvete por ano. Isto significa, no período, 23 mil bolas -ou 23 mil vezes feliz. E, como todo sorvetômano assumido, não me interesso por sorvetes cheios de nove horas. Quem gosta mesmo de sorvete prefere os básicos -sem exotismos.
"Qualquer coisa pode virar sorvete, até carne", diz Dondoli, com sua autoridade de bicampeão mundial. Atrevo-me a discordar. Não há sorvete de manga com torresmo ou de pitanga com sabão Aristolino que supere um simples, humilde, inesquecível sorvete de baunilha.


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