São Paulo, segunda-feira, 09 de agosto de 2004 |
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TENDÊNCIAS / DEBATES Oito jeitos de mudar o mundo
FREI BETTO
Não há quem não possa fazer um gesto na direção desses oito objetivos: debater em sala de aula as causas da pobreza e os entraves à melhor distribuição de renda; introduzir na escola educação nutricional e o programa "Jovem Voluntário, Escola Solidária"; promover painel sobre Chico Mendes, exposição sobre os direitos dos povos indígenas ou ações de combate ao trabalho e à prostituição infantis; participar do Fome Zero ou organizar uma horta comunitária; lutar pela melhoria da educação, do acesso a medicamentos seguros e baratos ou abrir um curso de alfabetização de adultos; denunciar o preconceito contra homossexuais e o uso da mulher no estímulo ao consumismo; fortalecer a Pastoral da Criança e discutir a relação entre explosão demográfica e crescimento econômico com desenvolvimento social; conscientizar sobre os riscos da Aids, as causas da malária e o aumento de doenças decorrentes do desequilíbrio ecológico; atuar na implantação da reforma agrária, visitar e apoiar acampamentos e assentamentos rurais e pesquisar o que é desenvolvimento sustentável etc. A Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade não é uma iniciativa do governo, embora conte com o seu apoio e participação. É uma proposta da sociedade civil, visando mobilizar a nação em torno de ações concretas que nos permitam construir o "outro mundo possível". E priorizar, em pleno neoliberalismo que assola o planeta, valores antagônicos ao individualismo e à competitividade, como o são a cidadania e a solidariedade. A pergunta central que a semana pretende levantar é: o que estamos fazendo para mudar o mundo? O que faz você, a sua escola, a sua comunidade religiosa, o seu movimento social, a sua empresa? Queixar-se é fácil e reclamar não é difícil. O desafio, porém, é agir, organizar, conscientizar, transformar. O filme "Diários de Motocicleta", de Walter Salles, tem uma cena em que Ernesto Guevara decide, na noite de seu aniversário, mergulhar no rio que o separava da comunidade de hansenianos. Naquele momento, Che optou pela margem oposta -a da cidadania e da solidariedade. Não ficou na margem em que nascera e fora criado, cercado de confortos e ilusões, nem se reteve "na terceira margem do rio", aquela dos que se isolam em suas convicções sectárias e jamais completam a travessia. É essa a opção que a semana quer incentivar. Porque nós podemos mudar o Brasil e o mundo. Basta passar das intenções às ações. Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 59, frade dominicano, escritor, é assessor especial da Presidência da República e autor de, entre outras obras, "Gosto de Uva" (ed. Garamond). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Hubert Alquéres: As empresas e o dever da transparência Índice |
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