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São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

O tucanês do PT

BRASÍLIA - Num encontro casual no Planalto, na semana passada, José Viegas (Defesa) avisou a Palocci (Fazenda): "Sabe aquela portaria do DAC que o está incomodando? Não não é nada importante".
Palocci levou meio segundo para lembrar de que se tratava: "Ah, sei! Não liga, não. Deixa isso pra lá".
A portaria em questão, de 93, foi mudada para acabar com o limite de 50% do mercado para as companhias aéreas e permitir que a fusão Varig-TAM voe em paz e sem limite. Setores da Fazenda e da Justiça reclamaram. E o monopólio?
A discussão sobre o papel do Estado e os limites do mercado extrapola a questão aérea. E o mais importante é o projeto desta semana do Planalto sobre as agências reguladoras, principalmente de energia, petróleo e telecomunicações.
O PT e o Lula de "antigamente" centralizariam tudo no Executivo, dando um chega-pra-lá nas agências. Mas o PT e o Lula de hoje sabem que o mercado não gosta de brincadeiras. Temos, então, que, em fevereiro, Lula falava grosso: "O Brasil foi terceirizado. As agências mandam no país". E, em setembro, escreve manso, praticamente mantendo os princípios e o formato das agências. Para não dizer que não muda "nada", criam-se "instrumentos de controle social".
No governo, há o grupo que quer um Estado forte, bem ao gosto do PT de antes, e um outro grupo que defende mercado livre, ao sabor do PT no poder. Podem tentar dar nome aos bois: Dirceu no primeiro caso, Palocci no segundo. Mas eles juram que pensam igualzinho...
Vamos então a Viegas, tentando explicar que, na questão aérea, nem tanto ao mar nem tanto à terra: "O governo não vai adotar mecanismos rígidos de intervenção, mas tampouco abre mão de instrumentos de que dispõe para ajudar o mercado a funcionar bem". Ou: "Não haverá intervenção, a menos que que seja necessário para defender o consumidor".
Em bom tucanês, o PT diz que: 1) é, mas não é; 2) deixa como está para ver como é que fica.


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