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ELIANE CANTANHÊDE
O tucanês do PT
BRASÍLIA - Num encontro casual no Planalto, na semana passada, José
Viegas (Defesa) avisou a Palocci (Fazenda): "Sabe aquela portaria do
DAC que o está incomodando? Não
não é nada importante".
Palocci levou meio segundo para
lembrar de que se tratava: "Ah, sei!
Não liga, não. Deixa isso pra lá".
A portaria em questão, de 93, foi
mudada para acabar com o limite de
50% do mercado para as companhias aéreas e permitir que a fusão
Varig-TAM voe em paz e sem limite.
Setores da Fazenda e da Justiça reclamaram. E o monopólio?
A discussão sobre o papel do Estado
e os limites do mercado extrapola a
questão aérea. E o mais importante é
o projeto desta semana do Planalto
sobre as agências reguladoras, principalmente de energia, petróleo e telecomunicações.
O PT e o Lula de "antigamente"
centralizariam tudo no Executivo,
dando um chega-pra-lá nas agências.
Mas o PT e o Lula de hoje sabem que
o mercado não gosta de brincadeiras.
Temos, então, que, em fevereiro, Lula
falava grosso: "O Brasil foi terceirizado. As agências mandam no país". E,
em setembro, escreve manso, praticamente mantendo os princípios e o
formato das agências. Para não dizer
que não muda "nada", criam-se
"instrumentos de controle social".
No governo, há o grupo que quer
um Estado forte, bem ao gosto do PT
de antes, e um outro grupo que defende mercado livre, ao sabor do PT
no poder. Podem tentar dar nome
aos bois: Dirceu no primeiro caso, Palocci no segundo. Mas eles juram que
pensam igualzinho...
Vamos então a Viegas, tentando
explicar que, na questão aérea, nem
tanto ao mar nem tanto à terra: "O
governo não vai adotar mecanismos
rígidos de intervenção, mas tampouco abre mão de instrumentos de que
dispõe para ajudar o mercado a funcionar bem". Ou: "Não haverá intervenção, a menos que que seja necessário para defender o consumidor".
Em bom tucanês, o PT diz que: 1) é,
mas não é; 2) deixa como está para
ver como é que fica.
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