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ELIANE CANTANHÊDE
No escurinho do cinema
BRASÍLIA - No caso de Renan Calheiros, Lula tenta levar vantagem
em tudo. Para ficar bem com a opinião pública, jura que não atua nem
contra nem a favor. Para manter o
PMDB fiel e acomodado, trabalha
por baixo dos panos para tentar salvar o presidente do Senado.
A decisão deverá ser nesta quarta-feira pelo plenário, embalado pelo Conselho de Ética, que pediu a
cassação por 11 votos a 4. Mas qualquer aposta é arriscada.
Renan tem a presidência, liderança no PMDB e bons advogados.
E luta desesperadamente contra a
avalanche de acusações. No mínimo, são histórias mal contadas que
vão se sobrepondo e nem dá mais
para acompanhar.
Tudo o que os senadores -ou
eleitores- tinham de saber, já sabem ou tinham obrigação de saber.
O voto objetivo já está pronto e
amadurecido. Mas a questão é outra, essencialmente política: a
quem interessa ou não a cassação
do presidente da Casa? A reta final,
portanto, é do voto subjetivo, aquele em que pesam menos as provas e
os indícios e mais as perdas e os ganhos de cada um, parlamentar ou
partido.
Pelo voto objetivo, Renan estaria
liqüidado. Quando a questão resvala do concreto para o abstrato, ele
lucra. Não é bom para explicar o
inexplicável, mas é muito bom
quando se trata de assediar, convencer, ganhar. Tem sido aliado de
todos os governos, de Collor a Lula.
A seu favor contam também as
regras do jogo. Sessão secreta, com
voto secreto, é o melhor dos mundos para políticos experientes, que
preferem o escurinho do cinema a
ver os pareceres dos relatores expostos para o país pela TV Senado, e
os votos, por toda a mídia.
Lula está pronto para o que der e
vier. Se Renan perder, dirá que não
sabia, não tinha nada a ver com isso.
Se ganhar e ficar no Senado, Lula
arranjará um jeito de se fazer credor do PMDB. Independentemente
do resultado, a grande vítima desta
vez não é você. É o Senado.
elianec@uol.com.br
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