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A culpa é da oposição
Em vez de tomar medidas contra o descalabro da Receita, presidente vai ao programa de sua candidata para atacar as vítimas
Ganhou fama na internet o vídeo em que o presidente Lula responde com maus modos a um rapaz pobre do Rio de Janeiro, que
dizia gostar de jogar tênis. Tratava-se de "esporte da burguesia",
declarou o presidente, entre alguns impropérios.
Talvez a seus olhos também pareçam simplesmente coisa "da
burguesia" as reações ao episódio
gravíssimo da quebra do sigilo fiscal de contribuintes, entre os
quais pessoas ligadas ao candidato José Serra.
Não pertencia "à burguesia",
entretanto, o caseiro Francenildo
dos Santos Costa, que depois de
dar declarações contrárias aos interesses do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, teve sua
conta bancária devassada pelos
chefões do poder petista.
Do garoto da favela a personagens do PSDB não há nada em comum exceto o fato de representarem algum potencial de atrito aos
poderosos do momento. E estes
põem em prática seu longo aprendizado de arrogância e de abuso,
tão logo se julgam ao abrigo dos
olhos do público.
Fazendo-se entretanto de vítima, como é seu costume, aliás, o
presidente da República ocupou
parte do horário eleitoral de sua
candidata para atribuir ao "preconceito" as críticas que o escândalo da Receita merecidamente
recebeu da oposição.
Embalada por uma música sentimental, a aparição de Lula no
programa de terça-feira foi uma
demonstração deprimente do modo com que o mandatário encara a
democracia, o debate político e
seu próprio papel institucional.
Conclamou os adversários a
manifestarem "mais amor pelo
Brasil", como se fosse dos petistas
e de seus aliados o monopólio desse sentimento. Criticou "os que só
querem destruir", como se tivesse
esquecido os tempos em que exerceu oposição sistemática. Condenou a "baixaria", como se fosse
elevado o propósito de investigar
a declaração de renda da filha de
um candidato à Presidência.
Lula nem sequer citou o caso,
escapando de explicações acerca
do descalabro das violações, sejam as de evidente caráter político, sejam aquelas cujas motivações ainda são menos claras.
Fosse para agir como presidente da República, Lula deveria desde já afastar os responsáveis pela
desmoralização da Receita Federal. Preferiu agir segundo os padrões da "república de companheiros" que se estabelece no
país, pedindo novamente votos
para sua candidata.
Não havendo provas do envolvimento direto de Dilma Rousseff
na armação engendrada na Receita Federal, foi por certo temerária
e excessiva a atitude tucana de pedir a impugnação da candidatura
petista na Justiça Eleitoral. Eleições não se ganham por meio desse expediente.
Mas uma democracia se vê ainda mais atingida quando o Estado
se torna aparelho nas mãos de
uma camarilha arrogante e impenitente, que o põe a serviço de
seus interesses eleitorais, de seu
desrespeito com os direitos dos cidadãos, de sua permanente vocação para a chantagem moral e para a intimidação política.
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