São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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O REVÉS DOS CACIQUES

As eleições de domingo significaram mais um passo no processo de amadurecimento do eleitorado brasileiro e das instituições democráticas de modo geral. Foi notório o repúdio a candidatos que representam um modo antigo de fazer política, resumido no termo "caciquismo". Nomes como os do ex-presidente Fernando Collor de Mello, dos ex-governadores Paulo Maluf, Orestes Quércia, Leonel Brizola e Newton Cardoso e do ex-prefeito paulistano Celso Pitta foram rejeitados pelos eleitores e não terão mandato eletivo pelo menos nos próximos dois anos.
O estilo mais tradicional de fazer política geralmente precisa contar com fatores como: uso da máquina pública em proveito próprio e contra adversários; certo controle das informações; e alguma benevolência, para dizer o menos, das autoridades fiscalizadoras do exercício do poder.
Essas facilidades do passado vêm sendo progressivamente desfeitas conforme avança a democratização. Governantes já não podem dispor dos dinheiros públicos como antes, correm o risco de prisão insistindo na farra fiscal; a evolução da imprensa rumo a um jornalismo mais independente também é um fenômeno a ressaltar; e instituições como o Ministério Público e a própria Justiça vêm exercendo a sua autonomia cada vez mais plenamente.
Alguns acontecimentos no Senado, em 2000 e 2001, ilustram essa evolução. Numa instituição que se considerava imune às investigações internas, senadores que se julgavam desobrigados de prestar contas foram levados de roldão num processo que exigia depuração. Luiz Estevão foi cassado e não pôde concorrer no domingo; José Roberto Arruda e Jader Barbalho voltaram ao Congresso, mas como deputados. Antonio Carlos Magalhães volta ao Senado, mas dificilmente retomará grande influência na esfera federal.
Essas figuras voltam politicamente menores, fenômeno que também ocorreu, por exemplo, com o ex-governador paulista Fleury Filho, que, desde que deixou o governo, só conseguiu eleger-se deputado federal.
É evidente que todo esse processo deve ser visto com algumas ressalvas. Em política os fenômenos são quase sempre sinuosos, apresentando idas e vindas. Para um cacique que sai de cena pode haver um outro, ainda em gestação, que entra. Mas o que é possível dizer é que o ambiente da política brasileira se torna mais avesso a tal perfil de mandatário e que esse é um dos bônus da vivência democrática.


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