São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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PAINEL DO LEITOR

Preço alto
"Neste ano, votei pela primeira vez. Acompanhei com atenção toda a campanha eleitoral por intermédio do horário gratuito, de jornais e dos debates. Votei orgulhoso na eleição histórica, que sela o amadurecimento da democracia brasileira. Mas, ainda assim, sinto-me enojado e frustrado pelo fato de um candidato, cujo projeto eleitoral pode muito bem ser confundido com um programa humorístico, bater o recorde de votação para deputado federal. É vergonhoso um Estado que detém uma parcela significativa da produção industrial e cultural e que é destaque em várias áreas eleger deputados que repetem bordões copiando o estilo grotesco do seu líder. Se consultada, a maioria dos eleitores que votou no líder do Prona nem sequer saberá dizer o significado da sigla. Vamos pagar um preço muito alto por essa aberração eleitoral."
Pedro Leonardo R. Villas Boas (Santos, SP)

Mudar para não mudar
"Está na hora de repensar o modelo representativo para a eleição no Legislativo federal. Enquanto um deputado foi eleito com 275 votos -número que em muitos condomínios de apartamentos seria insuficiente para eleger o síndico-, Estados com pouquíssimos habitantes têm direito ao mesmo número de mandatários no Senado que Estados que concentram quase um quarto da população do país. Tais fatores são herança do modelo conservador, avesso à verdadeira representação popular instituída por d. Pedro 1º desde as eleições para a Constituinte de 1823. Tem-se a impressão de que, quando as regras mudam, é para que tudo continue como sempre foi."
Mário Henrique Ditticio, estudante de direito da USP (São Paulo, SP)

Enquanto isso
"Enquanto lutamos e esperamos ansiosamente por mudanças no cenário político nacional, os baianos mais uma vez sustentam o coronelismo."
Marco Aurélio Fernandes da Silva (Curitiba, PR)

Horário gratuito
"Concordo plenamente com o leitor Carlos Esteves Bocchi ("Painel do Leitor", 8/10) quando diz que o horário gratuito, da maneira como é feito, deveria ser extinto. Se o eleitor esclarecido escutasse o "dr. Enéas" e a sua principal aluna, a "dra. Havanir", exporem as suas "idéias" por dois minutos, nem pensaria em votar neles como representantes do povo. Esse prejuízo, todos nós vamos pagar. Inclusive os filhos daqueles que votaram nessas pessoas. Ou o horário eleitoral gratuito permite que o candidato efetivamente se mostre ao eleitor, ou esse recurso de mídia deve ser eliminado, pois apenas colabora para a desinformação."
Aldo de Cairo (São José dos Campos, SP)

Lições
"O eleitor brasileiro deu uma lição de democracia para o mundo (basta ver a repercussão das nossas eleições na imprensa internacional). Agora, resta aos eleitos, no exercício de seus mandatos executivos e legislativos, mostrar que também aprenderam a lição."
Antônio Roberto Szabunia (Joinville, SC)

Nervosos
"Tenho a impressão de que há realmente um fator externo ao processo eleitoral, com forte influência na vida dos cidadãos e na sua "livre" definição de votos -ele se chama mercado. Cabe refletirmos se as tais "crises de nervosismo do mercado" não terminam por interferir no processo eleitoral em nosso país, maculando a nossa soberania. O voto do eleitor pode estar sendo influenciado pela ação de especuladores, por trás dos quais estão grandes grupos econômicos. Seria melhor que montassem o seu próprio partido político, com a sua cara e as suas propostas, e disputassem as eleições. O mercado pode estar nervoso, mas nós, cidadãos, estamos mais ainda com tanta insegurança."
Carlos Frederico Dantas Anjos (São Paulo, SP)

Analistas
"Analistas do JP Morgan têm-se manifestado efusivamente sobre a situação brasileira, ora melhorando, ora piorando a classificação dos títulos da nossa dívida externa. Cabe lembrar que essas manifestações provêm de uma instituição que não soube proteger a si e a seus clientes de maneira eficaz contra impactos graves dos recentes escândalos corporativos (Enron, WorldCom etc.). Como anunciado na mídia, o JP Morgan irá demitir funcionários como parte das medidas de absorção de prejuízos com empréstimos à Enron. Por que nós, brasileiros, estamos dedicando as páginas de nossos jornais ao "nonsense" gerado por analistas de instituições como essa?"
Karl Heinz Kienitz (São José dos Campos, SP)

Opção
"A Folha não se emenda, mesmo quando pratica um jornalismo equilibrado, como vem fazendo nos últimos dias. A foto de Lula estampada na Primeira Página da edição de ontem faz qualquer um pensar na imagem de um cadáver. Foi uma escolha, uma opção dos editores. A Folha também enfatizou em sua manchete de segunda-feira que Serra e Lula estão no segundo turno, igualando assim os dois candidatos. Poderia ter destacado que Lula teve o dobro dos votos de Serra. Os leitores desse jornal merecem um melhor jornalismo."
Carlos Tibúrcio, chefe de redação da campanha Lula Presidente (São Paulo, SP)

Ave do amor
"A reportagem "Ave amorosa leva prêmio de ciência inútil" (Ciência, pág. A12, 5/10) mostrou que uma das premiações do "antiprêmio Nobel" foi para um artigo sobre o comportamento sexual de avestruzes em relação a humanos. Pode parecer algo bastante bizarro, mas esse é um fato bastante relevante. Por nascer em incubadeira, um filhote de avestruz nunca chega a conhecer os seus pais, e o primeiro ser visualizado pelo filhote é o homem. Todo o trabalho de manejo com esses animais é feito por pessoas, e isso faz com que certa porcentagem de animais tenha um comportamento sexual voltado aos humanos. Quando um funcionário adentra o setor de reprodução de um criadouro, alguns machos fazem a dança de acasalamento para este, esquecendo-se da sua fêmea, o que pode causar prejuízos, como a queda na fertilidade dos ovos."
Marcelo Eduardo Kornfeld, zootecnista, diretor do Grupo Ostrich do Brasil, empresa especializada em Estrutiocultura (São Paulo, SP)



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