São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2006

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Para o lado

Política econômica põe freio na indústria e incentiva consumo de importados; é preciso alterar esse roteiro infeliz

A ECONOMIA brasileira está prestes a completar 26 anos marchando para o lado. A coleção de resultados medíocres colhidos ao longo do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será completada sem surpresas em 2006. A estagnação da indústria no terceiro trimestre, atestada por dados do IBGE na terça-feira, rebaixou para 3% o teto das projeções para o crescimento do PIB neste ano.
No campeonato da mediocridade, Lula poderá vangloriar-se de, durante seu primeiro período no Palácio do Planalto, o país ter crescido em média três décimos de ponto percentual por ano a mais do que nos oito anos sob Fernando Henrique Cardoso. Este poderá redargüir, dizendo que o que vale é a comparação entre os dois primeiros mandatos -e aí a diferença desaparece.
No Japão ou na Alemanha, onde a população não cresce e já desfruta de um alto nível de desenvolvimento e bem-estar, faz sentido discutir com lupa os resultados da contabilidade nacional. No Brasil, qualquer aumento do PIB em torno de 2,3% -o padrão dos últimos 12 anos- é pífio. Quando a renda por habitante de um país pobre, desigual e populoso como o Brasil não cresce nem 1% ao ano, é de uma tragédia social que se trata.
Particularmente curiosa é a incapacidade dos formuladores e dos gestores da política econômica brasileira de assimilarem as lições da história recente.
O câmbio sufoca parcela significativa da indústria doméstica há tempos. Existem setores, como o calçadista e o têxtil, que enfrentam severa recessão. Mas os analistas que ainda não admitem o efeito deletério do real valorizado para a economia argumentam que a massa salarial está crescendo e impulsionando o consumo dos brasileiros.
É verdade, mas uma das alavancas desse movimento é o gasto público -fator extraordinário, ligado ao ciclo eleitoral, que não vai se repetir nos próximos anos, sob pena de nova escalada nos tributos ou na dívida pública.
O poder de compra aumenta, entre outros motivos, também por conta da compressão na cotação do dólar e nos preços dos alimentos que a política monetária veio favorecendo. O agronegócio e a indústria instalados no Brasil sofrem os efeitos colaterais dessa opção. Se o consumo cresce, mas a indústria local não acompanha o ritmo, então os bens importados passam a ocupar espaço crescente no país.
Se a despesa pública é um dos esteios do consumo que, por sua vez, redunda em crescimento das importações, então o governo federal está usando dinheiro dos impostos recolhidos aqui para criar empregos no exterior.
Conhecemos o roteiro e sabemos que não acaba bem. É preciso corrigi-lo enquanto é tempo, com redução maior do juro básico e controle do gasto público.


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