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CLÓVIS ROSSI
Entre Osasco e a Finlândia
SÃO PAULO - O fato de um garoto
ter saído disparando por sua escola
na Finlândia deveria levar o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, a
pedir a anulação dos Jogos Olímpicos de 1952, realizados equivocadamente naquele país, que, como fica
demonstrado, não tem condições
de segurança para abrigar qualquer
tipo de evento.
Afinal, Teixeira usou o fato de
que escolares matam escolares (nos
Estados Unidos) para fugir de uma
pergunta sobre a violência no Brasil. É típico do nacionalismo rastaqüera. Em vez de admitir francamente que o Brasil tem problemas
gravíssimos (de segurança ou qualquer outro), olha-se para outro lado
(ou país).
É óbvio que existe violência em
outros países. Desde que Caim matou Abel é assim. Ninguém precisa
ser Ph.D em segurança pública nem
fazer frenéticas consultas no Google para descobrir o óbvio.
Daí a fugir do fato de que a violência no Brasil supera os números de
qualquer país civilizado, e até de
muitos em estágio semelhante de
incivilidade, vai um abismo que só
pode ser evitado com essa mentalidade tipicamente tapuia de não encarar os fatos jamais.
Com o que, obviamente, os problemas se eternizam.
Menos mal que em camadas sociais desfavorecidas esse raciocínio
nem sempre aparece. O leitor Talis
Mauricio, estudante de jornalismo,
conta que sua mãe, a professora
Maria Emilia, fez uma pesquisa
com alunos da 4ª série de uma escola municipal de Osasco, todos na
faixa dos dez anos.
Aprovaram, sim, a Copa de 2014
no Brasil, mas houve quem perguntasse: "Como podemos receber pessoas de outros países sem nenhuma
condição e estrutura, cheios de necessidades urbanas e também com
muita violência?".
Ou quem dissesse: "A violência
vai pegar mal com os turistas".
Osasco olha para Osasco, não para a Finlândia, Canadá, EUA...
crossi@uol.com.br
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