São Paulo, quarta-feira, 10 de janeiro de 2001

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GABRIELA WOLTHERS

As múmias do PSDB

RIO DE JANEIRO - Já que o PSDB lançou uma coleção contando a história do Brasil, destacando d. Pedro 2º como a "grande figura do século 19", bem que o governo FHC poderia aproveitar para cuidar com um pouco mais de zelo -leia-se verbas- do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, cujo prédio foi a morada do imperador e onde está guardada grande parte do acervo histórico e científico que ele colecionou durante sua vida.
A vista da fachada do palácio da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, é desoladora. O que resta da apagada pintura está descascando, as molduras das portas estão carcomidas, os vidros de algumas janelas e esculturas, quebrados.
Ao entrar no mais antigo museu científico do Brasil, o visitante fica dividido. De um lado, percebe o cuidado com que o acervo exposto -de um total de 9 milhões de peças- é tratado. De outro, depara-se com a total pobreza de recursos.
As múmias egípcias trazidas pelo imperador ficam em uma sala sem ar-condicionado. Algumas já foram atacadas por fungos e cupins. Como proteção, apenas um esterilizador de ar daqueles que a gente compra em lojas de departamentos. O mesmo acontece com a coleção greco-romana, dote da imperatriz Teresa Cristina. No setor de botânica e entomologia, a explicação de cada peça -até bem didática- está escrita em simples cartolinas.
O museu passa por reformas há mais de quatro anos. Com a escassez de verbas, somente o telhado foi terminado. O projeto, que inclui a mudança das coleções científicas para um outro prédio ainda a ser comprado, é estimado em R$ 19 milhões -só R$ 1,7 milhão foi liberado até agora pelo governo federal.
A reforma do telhado só foi concluída porque a Petrobras resolveu ajudar -doou R$ 900 mil de uma verba certa de R$ 4,5 milhões. Pelo menos o acervo não corre mais risco de ser encharcado. Quem acha que é exagero é porque não conhece a história da múmia "Esther Williams", que ganhou o apelido por ter ficado boiando após uma chuva de verão.


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