São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Fazer o bem

Nosso mundo continua cenário de gestos de dedicação, de altruísmo e de caridade e também de acontecimentos que amedrontam e entristecem: sequestros, assaltos, atos de violência e injustiças que agravam as desigualdades sociais.
Permanece sempre mais forte o apelo do Evangelho: o mandamento do amor. Jesus Cristo, Filho de Deus, veio a este mundo para dar testemunho do amor misericordioso de Deus e para nos ensinar a fazer o bem. Expressão maior de misericórdia é o perdão, que nos alcançou pelo dom de sua vida, e a força para nos corrigirmos de nossas faltas, reconciliarmo-nos uns com os outros e fazermos o bem, especialmente aos mais necessitados.
Precisamos acreditar na ação interior de Deus, que nos liberta do egoísmo e do pecado e nos abre para o serviço gratuito ao próximo.
Já neste mundo, o amor há de superar a miséria, a exclusão e o ódio e dinamizar a partilha e o perdão que estão na base da sociedade solidária e fraterna.
O advento dessa sociedade marcada pelo diálogo e pela concórdia irá acontecendo à medida que multiplicarmos os atos de acolhimento e de doação gratuita. Esses atos intensificam em nós a experiência feliz de quem faz o bem. Fica aqui o convite a todos para que levem à frente a sua criatividade e procurem novas formas de servir e de promover os mais necessitados.
Há exemplos que nos inspiram e nos ajudam a fazer o bem. Em 1993, foi fundada por Jairo Siqueira Azevedo, com grande confiança em Deus, a Cidade dos Meninos São Vicente de Paula, em Ribeirão das Neves (MG). São 1.600 internos em cem "casas-lar" e 400 externos com excelente pedagogia e iniciação ao trabalho a escolher entre 80 especializações. Em 1990, surgiu na cidade de São Paulo a Comunidade São Martinho, na Mooca, que continua até hoje acolhendo durante o dia o "povo da rua". A iniciativa multiplicou-se em outros bairros. Perto do viaduto Bresser, atua o Arsenal da Esperança, que abriga 1.100 adultos em cada noite, garantindo-lhes alimentação, momentos de lazer, auxílio para documentação, saúde e trabalho. A obra se deve a Ernesto Olivero e aos membros do Serviço Missionário Jovem, com sede em Turim, com a colaboração da Arquidiocese de São Paulo. Ao meio-dia, o refeitório abre as portas para o almoço, que oferece o "bom prato" a 1.200 pessoas por apenas R$ 1.
Existem várias outras casas em São Paulo e em outras cidades que recebem grupos de adultos e promovem laços de companheirismo e de amizade e a reinserção nas oportunidades de trabalho. Sobressai o idealismo de numerosos voluntários, que, no anonimato, fazem o bem às crianças, a portadores de deficiência, a enfermos e a idosos. Cabe ao governo promover políticas públicas e soluções estruturais e apoiar as iniciativas da própria sociedade em favor dos mais necessitados.
Às comunidades cristãs, religiosas e beneficentes compete dar exemplo de maior dedicação para que, em todos esses empreendimentos, além do pão, do agasalho e do trabalho, haja a expressão forte de quem faz o bem como prova de amor fraterno.
Quem recebe o bem sente-se amado e fica feliz. Que dizer, então, de quem, ao amar, faz o outro feliz? Eis a beleza do mandamento de Jesus. Maior a alegria de quem dá.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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