São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2005

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IGOR GIELOW

Os aviões de Lula

BRASÍLIA - O Airbus de Lula finalmente deve chegar a Brasília nesta semana. O Planalto mostra um falso constrangimento, fazendo de tudo para minimizar politicamente a entrega do aparelho de US$ 56,7 milhões, pagos em prazo recorde.
Primeiro, o avião devia chegar antes do Natal -mas aí ficaria parecido com um presente de Papai Noel. Depois, seria inaugurado com pompa na viagem ao fórum dos ricos em Davos. Ops, é bom ir primeiro a Tabatinga mesmo; melhor, passar na reunião dos intelectuais e ongueiros metidos a pobres de Porto Alegre.
Lula fez uma opção e devia assumi-la. O avião próprio para a Presidência é perfeitamente defensável, ainda que houvesse alternativas mais econômicas e menos ""nobres", como leasing ou compra de um usado. Enquanto isso, o governo patina num tema correlato muito mais importante: a compra dos caças da FAB responsáveis pela defesa do núcleo político-administrativo brasileiro.
A crítica fácil dirá que não precisamos de caças porque o Brasil tem história pacífica, vizinhos inócuos e que militarismo é pernicioso em si. As três justificativas podem até fazer sentido, isoladamente. Só que pensar estrategicamente implica ver um pouco à frente, prevendo o que a presença militar americana e a instabilidade nas vizinhanças podem trazer.
Não é neurose militarista. O Brasil precisa de um mínimo de poderio bélico de dissuasão se quiser seguir como país regionalmente importante -sem entrar, portanto, nos delírios de grandeza do Itamaraty lulista.
O projeto F-X, que previa a compra dos caças, trouxe de quebra uma idéia de desenvolvimento industrial e comercial. Surgiram algumas boas opções, duas delas com vantagens mais claras, a da Dassault-Embraer e a da Rosoboronexport-Avibrás.
Com o adiamento do F-X, opções pífias de compra ou aluguel de material de segunda, sem transferência tecnológica, voltam à tona. Pena. Lula poderia ter tido a mesma convicção, envergonhada ou não, que teve para comprar seu Airbus no caso dos supersônicos.


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