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IGOR GIELOW
Os aviões de Lula
BRASÍLIA - O Airbus de Lula finalmente deve chegar a Brasília nesta
semana. O Planalto mostra um falso
constrangimento, fazendo de tudo
para minimizar politicamente a entrega do aparelho de US$ 56,7 milhões, pagos em prazo recorde.
Primeiro, o avião devia chegar antes do Natal -mas aí ficaria parecido com um presente de Papai Noel.
Depois, seria inaugurado com pompa na viagem ao fórum dos ricos em
Davos. Ops, é bom ir primeiro a Tabatinga mesmo; melhor, passar na
reunião dos intelectuais e ongueiros
metidos a pobres de Porto Alegre.
Lula fez uma opção e devia assumi-la. O avião próprio para a Presidência é perfeitamente defensável, ainda
que houvesse alternativas mais econômicas e menos ""nobres", como leasing ou compra de um usado. Enquanto isso, o governo patina num
tema correlato muito mais importante: a compra dos caças da FAB
responsáveis pela defesa do núcleo
político-administrativo brasileiro.
A crítica fácil dirá que não precisamos de caças porque o Brasil tem história pacífica, vizinhos inócuos e que
militarismo é pernicioso em si. As três
justificativas podem até fazer sentido, isoladamente. Só que pensar estrategicamente implica ver um pouco
à frente, prevendo o que a presença
militar americana e a instabilidade
nas vizinhanças podem trazer.
Não é neurose militarista. O Brasil
precisa de um mínimo de poderio bélico de dissuasão se quiser seguir como país regionalmente importante
-sem entrar, portanto, nos delírios
de grandeza do Itamaraty lulista.
O projeto F-X, que previa a compra
dos caças, trouxe de quebra uma
idéia de desenvolvimento industrial e
comercial. Surgiram algumas boas
opções, duas delas com vantagens
mais claras, a da Dassault-Embraer e
a da Rosoboronexport-Avibrás.
Com o adiamento do F-X, opções
pífias de compra ou aluguel de material de segunda, sem transferência
tecnológica, voltam à tona. Pena. Lula poderia ter tido a mesma convicção, envergonhada ou não, que teve
para comprar seu Airbus no caso dos
supersônicos.
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