|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASSAÇÕES EM DÚVIDA
Após quase um mês de férias, o
Conselho de Ética da Câmara
dos Deputados retomou ontem seus
trabalhos com a promessa de concluir, até 14 de fevereiro, pelo menos
6 dos 11 pedidos de cassação de parlamentares. Todos são acusados de
estarem envolvidos no esquema ilegal de pagamento a deputados que
ficou conhecido como "mensalão".
No dia 14 do próximo mês termina
a convocação extraordinária do Congresso, que teve início em 16 de dezembro sob a sombra da despudorada absolvição de Romeu Queiroz
(PP-MG), rejeitada por 250 deputados e apoiada por apenas 162.
Réu confesso, Queiroz admitiu ter
recebido R$ 452 mil do esquema ilegal de financiamento gerenciado pelo publicitário e lobista mineiro Marcos Valério de Souza.
Desmoralizado pela avalanche de
escândalos de 2005, o Congresso
tem a obrigação de demonstrar à sociedade que a absolvição de Queiroz
foi um grave equívoco, um episódio
isolado. Deve afastar a suspeita de
que o ato foi o primeiro fruto de um
acordo espúrio para evitar a punição
de parlamentares que, na hipótese
mais branda, quebraram o decoro ao
deixar de contabilizar recursos para
suas campanhas eleitorais.
O primeiro passo para a Câmara recuperar-se dessa falha abissal é o
Conselho de Ética apresentar pareceres inequívocos pela cassação dos
parlamentares favorecidos pelo "valerioduto", barrando qualquer tentativa de fazer prevalecer interesses inconfessáveis.
Ressalte-se que o Conselho cumpriu seu papel no caso de Romeu
Queiroz. Recomendou a cassação,
que o plenário, contrariando longa
tradição do Congresso, refutou.
Até ontem alheio à convocação extraordinária que poderá retirar R$
100 milhões do bolso do contribuinte, o Conselho de Ética tem agora a
tarefa de restaurar o sentido de responsabilidade moral que a questão
exige, na esperança de que o mesmo
espírito sobreviva ao corporativismo
que ameaça se instalar no plenário.
Texto Anterior: Editoriais: A CARTADA DE ALCKMIN Próximo Texto: Editoriais: OS EUA E O COMÉRCIO Índice
|