São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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CASSAÇÕES EM DÚVIDA

Após quase um mês de férias, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados retomou ontem seus trabalhos com a promessa de concluir, até 14 de fevereiro, pelo menos 6 dos 11 pedidos de cassação de parlamentares. Todos são acusados de estarem envolvidos no esquema ilegal de pagamento a deputados que ficou conhecido como "mensalão".
No dia 14 do próximo mês termina a convocação extraordinária do Congresso, que teve início em 16 de dezembro sob a sombra da despudorada absolvição de Romeu Queiroz (PP-MG), rejeitada por 250 deputados e apoiada por apenas 162.
Réu confesso, Queiroz admitiu ter recebido R$ 452 mil do esquema ilegal de financiamento gerenciado pelo publicitário e lobista mineiro Marcos Valério de Souza.
Desmoralizado pela avalanche de escândalos de 2005, o Congresso tem a obrigação de demonstrar à sociedade que a absolvição de Queiroz foi um grave equívoco, um episódio isolado. Deve afastar a suspeita de que o ato foi o primeiro fruto de um acordo espúrio para evitar a punição de parlamentares que, na hipótese mais branda, quebraram o decoro ao deixar de contabilizar recursos para suas campanhas eleitorais.
O primeiro passo para a Câmara recuperar-se dessa falha abissal é o Conselho de Ética apresentar pareceres inequívocos pela cassação dos parlamentares favorecidos pelo "valerioduto", barrando qualquer tentativa de fazer prevalecer interesses inconfessáveis.
Ressalte-se que o Conselho cumpriu seu papel no caso de Romeu Queiroz. Recomendou a cassação, que o plenário, contrariando longa tradição do Congresso, refutou.
Até ontem alheio à convocação extraordinária que poderá retirar R$ 100 milhões do bolso do contribuinte, o Conselho de Ética tem agora a tarefa de restaurar o sentido de responsabilidade moral que a questão exige, na esperança de que o mesmo espírito sobreviva ao corporativismo que ameaça se instalar no plenário.


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