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Planalto sem energia
Setor elétrico se avizinha de limiar de risco similar ao do apagão de 2001; governo não pode fazer milagre, só lição de casa
A ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), por meio de seu
presidente, Jerson
Kelman, acendeu a luz amarela:
o setor de energia precisa começar a se mexer, ou ser mexido.
Não pode mais se limitar a manter um olho nas nuvens e outro
no nível das represas das hidrelétricas. Assim acabou o ano de
2000 e começou o de 2001, que
trouxe o inesquecível apagão.
Kelman vocalizou o que o governo Lula até então se recusava
a admitir de modo aberto: "Não é
impossível ter [racionamento
em 2008]". Disse ainda que ele
parece mais improvável do que
provável, mas escolheu a palavra
certa para chacoalhar a inércia e
chamar à razão. O país precisa se
preparar para a escassez de eletricidade, se de fato ela vier.
A própria Aneel não pode eximir-se de responsabilidade, por
omissão diante do que muitos
vêem como imperfeições do modelo elétrico. É do governo, porém, que se aguardam sinais de
racionalidade e ação preventiva.
Visto do Planalto, o Ministério
de Minas e Energia (MME) parece ter outras prioridades. Questões impertinentes ao setor elétrico, como as emissoras de rádio
de Edison Lobão Filho (DEM-MA), suplente do senador Edison Lobão (PMDB-MA), cotado
para a vaga ministerial.
Não fosse por isso, talvez o
MME, a Casa Civil e a Presidência estivessem cuidando de providências óbvias, como retomar
campanhas para aumentar a eficiência do consumo de energia. A
poupança que se pode obter pelo
lado da demanda é limitada, seguramente menor que em 2001,
mas não desprezível. Não há, de
resto, medidas milagrosas para
gerar milhares de megawatts do
dia para a noite.
Por outro lado, seis anos depois do desastre, o sistema elétrico se encontra mais bem equipado para enfrentar a escassez que
virá, se continuar chovendo pouco. Há mais interligação entre as
regiões, o que permite transferir
energia do Sul e do Sudeste para
o Nordeste, onde os reservatórios mais se acercam do nível crítico. Mal ou bem, há um parque
emergencial para geração termelétrica, inexistente em 2001.
É só por isso que não subsiste
razão para pânico. A crescente
incerteza decorre sobretudo da
prostração do governo Lula
diante do que precisaria estar
sendo providenciado para a travessia dos próximos três anos,
enquanto grandes hidrelétricas
não entram em linha e não se regulariza a oferta de gás natural.
Quase nada se expandiu, nos
últimos cinco anos, a rede de dutos para distribuir gás. Os programas de conservação de energia (Procel) e fontes alternativas
(Proinfa) são pouco mais que enfeites ecologicamente corretos.
Pouco se aproveita do potencial
eólico no Nordeste ou da geração
com biomassa (bagaço de cana)
no Sudeste, por falta de regulamentação e preços compensadores. Há muito a fazer.
De nada adianta o governo federal sonhar com o grau de investimento ainda neste ano se
não se mostrar capaz de prover a
economia com um insumo tão
básico quanto eletricidade. O racionamento de energia já começou, mas no Planalto.
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