|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Luz sobre o papel do sistema financeiro
FABIO C. BARBOSA
O setor financeiro tem cumprido o seu papel na equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade
A ECONOMIA brasileira encerrou 2007 de forma muito positiva. Os indicadores mostram
forte crescimento em muitos setores,
sustentado pela estabilidade econômica, que se manteve preservada nos
últimos anos. Esse processo de expansão deixou clara a importância de
termos trabalhado as bases. Por causa
disso, temos perspectivas positivas
para a economia, estimulando o
maior nível de investimento e realimentando todo o processo.
Alguns resultados saltaram aos
olhos em 2007. O volume de vendas
da indústria automobilística bateu recorde, superando o volume de 1997,
até então o mais alto.
A indústria, em geral, mostrou ser
extremamente ágil, reagindo com
competência ao câmbio valorizado.
Os indicadores mostram que 83% dos
subsetores industriais apresentaram
expansão em relação ao ano anterior.
Esse número só foi superado em
2004, ano de recuperação econômica.
O sistema financeiro tem desempenhado papel central nessa retomada
do crescimento. O crédito é, reconhecidamente, um dos principais motores dessa retomada na economia. O
crescimento médio do crédito nos últimos anos tem sido superior a 20%
ao ano, tendo atingido 27% em 2007.
Os bancos têm feito importantes
investimentos para suportar esse ritmo de crescimento. São várias as razões que viabilizaram essa expansão.
Cito a queda na taxa de juros básica
(Selic), bem como a efetiva e representativa queda nos "spreads" (margens) médios e o alongamento dos
prazos, que têm viabilizado o crédito
para um número cada vez maior de
pessoas e empresas.
Ajustes na estrutura jurídica também tiveram impacto positivo. A mais
notória foi a mudança feita no crédito
imobiliário, que possibilitou um crescimento médio de mais de 50% ao
ano nos últimos anos, provocando
um grande "boom" no setor.
Esse fato merece destaque, pois é
um caso comprovado de que, quando
se trabalha no diagnóstico preciso e
correto do problema, as medidas corretivas são mais apropriadas e, portanto, mais eficazes. De nada adianta
uma análise superficial das questões,
o que quase sempre nos leva a seguir o
que chamo de "pistas falsas".
A base de clientes ativos nos bancos
subiu de 77 milhões em 2002 para
mais de 100 milhões. Isso representa
inclusão social, pois as pessoas passam a ter acesso a uma moderna rede
de atendimento, sem, por exemplo,
ter que depender de mecanismos ineficientes, como descontar cheque no
comércio, sempre com desvantagem
econômica. Ora, se a base de clientes
no sistema financeiro aumentou de
forma tão expressiva, é porque o sistema financeiro ficou mais acessível
e, sim, mais barato.
Ou seja, o setor financeiro tem
cumprido o seu papel na complexa
equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade. Um setor financeiro forte é necessário para
que se tenha uma economia forte
-e vice-versa. Os interesses são convergentes.
Os acontecimentos recentes -e
ainda atuais- que se passam no mercado financeiro internacional (principalmente com a questão do "subprime", crédito imobiliário de segunda
linha) mostram o problema que se
cria para a sociedade quando o sistema financeiro enfrenta dificuldades.
Embora tenha sido uma operação
de curto prazo, vale destacar que, em
dezembro de 2007, o Banco Central
Europeu injetou dinheiro público
-US$ 500 bilhões (!)- para garantir
a liquidez do sistema.
No Brasil, o sistema não se expôs a
riscos. Pelo contrário, apresenta uma
solidez que garante uma boa perspectiva de crescimento econômico para
2008. Ao contrário das perspectivas
para os EUA e a Europa, onde o impacto da crise no setor financeiro pode atrapalhar o ritmo de crescimento.
É importante que coloquemos luz
nesse debate sobre o papel dos bancos
no Brasil. O sistema financeiro tem
compromisso explícito com a transparência -e muito se tem feito nessa
direção. É claro que muito ainda temos para ser feito, como sempre. Por
outro lado, faz-se necessário, também, que os demais setores da sociedade busquem aprofundar e colocar
luz nas suas idéias e nas suas avaliações sobre o setor financeiro.
Preconceitos são nocivos e só servem para levar a medidas inadequadas, que acabam por prejudicar a
complexa equação econômica. É claro que ninguém quer isso.
Assim, defender a verdade sobre o
sistema financeiro, baseado em fatos,
nem sempre é fácil, nem sempre é popular, mas é sempre o melhor caminho no longo prazo. Precisamos entender os fatos como eles são.
Isso é do interesse de todos. É urgente colocar mais luz sobre esse
debate.
FABIO COLLETTI BARBOSA, 53, administrador de empresas, é presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e do Banco Real.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: João Pedro Stedile, Demétrio Valentini, José Antônio Moroni e Emir Sader: Por uma reforma tributária justa
Índice
|