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UM MINISTÉRIO NO AR
O ministro do Desenvolvimento,
Celso Lafer, tanto no discurso de
posse quanto em outras declarações
recentes, preferiu dar prioridade ao
que não irá fazer. O novo ministério
não vai se contrapor à Fazenda de Pedro Malan; a nova pasta não vai patrocinar uma recaída nas velhas políticas protecionistas. As propostas
positivas têm sido, até agora, reiterativas, vagas ou insuficientes.
É decerto louvável a reafirmação de
teses como a do apoio a pequenas
empresas e à redução do custo Brasil,
assim como ao estímulo das atividades exportadoras, e a do endosso à
política de resistência benevolente às
pressões externas por mais abertura
comercial. Mas parece evidente que,
além de muito genéricas, essas já
eram promessas do governo FHC
que ainda não se sabe como o novo
ministério ajudará a implementar.
Além da estabilidade de preços, o
governo FHC fez uma aposta na viabilidade de uma reestruturação produtiva virtuosa, amparada no investimento estrangeiro, na privatização e
na exposição das empresas brasileiras à competição internacional.
A estabilidade, a muito custo, está
preservada. Mas a aposta nas virtudes do ajuste produtivo induzido pelo mercado há muito deixou de inspirar confiança. E nos poucos setores
em que o governo ousou criar barreiras altamente protecionistas, como
no automobilístico, há hoje um impasse evidente, que se poderia resumir numa expressão: excesso de
oferta e de capacidade produtiva.
Ou seja, indo um pouco além das
declarações de intenções e princípios
gerais em favor do desenvolvimento,
há carências e dúvidas substantivas
na política industrial que o governo
vem esboçando. Sobre essas questões paira um incômodo silêncio, faltam debate e diagnósticos.
As questões relativas à inserção do
Brasil na economia global também
continuam carecendo de um tratamento integrado. Aqui importa menos a intermediação do ministro do
Desenvolvimento junto à Fazenda e
mais a coordenação das ações que
envolvem a sua área, a Câmara de Comércio Exterior, o Itamaraty e as novas agências de regulação da infra-estrutura. Sobre esse desafio político e institucional reina, também,
uma timidez desoladora.
Finalmente, é importante lembrar
que a pauta do BNDES, inclusive no
que concerne à sua atuação no processo de privatização, tem sido motivo de intenso debate. Parece insuficiente sugerir que a novidade a partir
de agora será colocar o megabanco
estatal a serviço das micro e pequenas empresas, que aliás já contam
com uma agência como o Sebrae, cujas verbas são significativas.
Desde o momento em que o presidente FHC anunciou a criação de um
Ministério do Desenvolvimento,
duas objeções principais foram levantadas. Os críticos mais ferozes
denunciaram o suposto caráter diversionista da iniciativa, num momento em que a política econômica
joga o país na recessão e tudo parece
subordinado aos imperativos do
FMI. Os mais conservadores alertaram para os riscos de maquiar a burocracia sem de fato acrescentar racionalidade à política econômica.
Criado o Ministério do Desenvolvimento e empossado seu titular, essas
questões continuam pairando no ar.
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