São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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PRESSÕES CONTRADITÓRIAS

Há algumas semanas, diversos indicadores de preços vinham revelando que a inflação ao consumidor estava em queda. Agora se sabe que na cidade de São Paulo, em particular, esse processo já foi além: de acordo com o índice de custo de vida calculado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), o nível médio dos preços ao consumidor caiu em fevereiro.
Embora tenha sido moderada e influenciada por fatores pontuais (como liqüidações de verão), a deflação de 0,18% apurada pelo índice do Dieese não deixa de ser significativa. Ela constitui mais uma evidência de que continua muito tímido o repasse aos preços no varejo dos aumentos observados no atacado. Também se comportam bem os indicadores relativos ao câmbio e ao risco-país, vencido o período de maior nervosismo do caso Waldomiro Diniz.
Diante desses resultados, aumentaram nos últimos dias as apostas de que o Banco Central (BC) voltaria a reduzir a taxa básica de juros neste mês. Porém essas expectativas foram rapidamente revertidas ontem, após a divulgação de que a alta do IGP-DI em fevereiro foi bem maior do que esperava o mercado.
O comportamento dos preços ao consumidor apurado pelo IGP não destoou daquele constatado pelos demais índices de varejo. O que respondeu pelo resultado decepcionante foi uma alta expressiva dos preços industriais no atacado -associada a pressões de custos advindas do aumento da Cofins e, sobretudo, do forte encarecimento de matérias-primas no mercado internacional.
O resultado, incômodo, aumenta a pressão sobre o BC. Por mais que a demanda esteja contida, esses aumentos de preços no atacado, dada a sua intensidade, tenderão, mais cedo ou mais tarde, a chegar aos consumidores. Isso significa que para limitar a 5,5% a inflação ao consumidor, que é a meta para 2004, o BC teria de manter extremo conservadorismo na administração dos juros. Eis mais um dado a reforçar as discussões já em curso sobre as metas de inflação.


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