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CARLOS HEITOR CONY
Conveniência do porão
RIO DE JANEIRO - Toda vez que estoura um escândalo, real ou não, os
interessados se esforçam em desviar a
atenção da sociedade, procurando
saber quem e por que divulgou a tramóia, pondo o escândalo em plano
secundário e até mesmo esquecido.
Sempre reclamei da estratégia dos
envolvidos, procurando me limitar
ao escândalo em si, tal como ocorreu
com a compra de votos para o segundo mandato de FHC e outros casos
antigos ou recentes.
Contudo, no escândalo que envolveu um ex-assessor do chefe da Casa
Civil da Presidência da República,
não deixa de ser estranho que os fatos
tenham esperado quase dois anos para serem revelados.
Bandidos e mocinhos envolvidos na
questão aguardaram pacientemente
o momento oportuno para jogar tudo
no ventilador. De duas uma: ou o ato
da corrupção em si foi considerado
menor, devido a quantias relativamente pequenas, que nem mereciam
abertura de contas secretas nos paraísos fiscais, ou a corrupção, de tão
assimilada, de tão freqüente e pedestre, não tinha dinamite suficiente para abalar o governo e o partido que está no poder.
Não se trata de encobrir o principal
para perder tempo procurando os detalhes. Na Antigüidade, era comum
os tiranos mandarem cortar a língua
dos mensageiros que trouxessem más
notícias, como péssimas colheitas ou
batalhas perdidas. Esse tempo não
passou de todo, mas, no caso em
questão, é curioso e profilático saber
como as coisas aconteceram.
Irrelevante conhecer os autores materiais da cena gravada em território
da Infraero. Nem mesmo conhecer os
seus mandantes. O tempo que se perderá nessa investigação ajudará a esquecer o núcleo do caso, que é a corrupção instalada no mecanismo do
poder.
Mas o tempo em que a bomba ficou
guardada nos porões da política nacional, essa, sim, é uma questão que
precisa ser esclarecida para a total
absolvição dos inocentes e a ampla
condenação dos culpados.
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