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CLÓVIS ROSSI
Mais jabuticabas
SÃO PAULO - É razoável supor
que ainda existam neocons (neoconservadores) republicanos que
desconfiem da amizade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com
Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo
Morales etc.
Como deve haver quem suponha,
como acontece com empresários,
acadêmicos e diplomatas brasileiros, que as negociações em torno da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas) não avançaram por um
suposto viés antinorte-americano
da política externa brasileira (suposição equivocada, mas não dá para
discuti-la agora).
Mesmo assim, é inimaginável que
algum dirigente do Partido Republicano se junte a um eventual grito
de "Fora, Lula" quando o presidente brasileiro visitar Washington no
fim do mês.
No Brasil, no entanto, acontece
sem causar espanto a jabuticaba de
o partido (PT, lembra-se?) do qual
Lula é o presidente de honra e do
qual foi o único candidato presidencial em toda a história partidária ficar do lado de fora gritando: "Fora,
Bush".
Nada contra gritar "Fora, Bush"
(ou quem seja). Faz parte das inúmeras graças da democracia.
Mas não é assim que as coisas
funcionam entre gente séria. O correto, não fosse a caricatura que, no
Brasil, chamam de política, é o PT
sentar com Lula, dizer a ele tudo o
que o leva a gritar "Fora, Bush" e
pedir que o presidente transmita ao
visitante os seus incômodos.
Não foi isso, de certo modo, o que
os Estados Unidos fizeram ao divulgar, na antevéspera da chegada de
Bush, relatório em que acusam gente muito próxima do presidente de
participar do episódio do dossiê antitucano?
Aqui, não. O partido do presidente não tem a mais remota influência
na política do governo, tampouco
tem uma política alternativa a propor, por isso grita (mas não larga
nenhuma das "boquinhas" que ocupa). É Brasil.
crossi@uol.com.br
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