São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Mais jabuticabas

SÃO PAULO - É razoável supor que ainda existam neocons (neoconservadores) republicanos que desconfiem da amizade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Hugo Chávez, Fidel Castro, Evo Morales etc.
Como deve haver quem suponha, como acontece com empresários, acadêmicos e diplomatas brasileiros, que as negociações em torno da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) não avançaram por um suposto viés antinorte-americano da política externa brasileira (suposição equivocada, mas não dá para discuti-la agora).
Mesmo assim, é inimaginável que algum dirigente do Partido Republicano se junte a um eventual grito de "Fora, Lula" quando o presidente brasileiro visitar Washington no fim do mês.
No Brasil, no entanto, acontece sem causar espanto a jabuticaba de o partido (PT, lembra-se?) do qual Lula é o presidente de honra e do qual foi o único candidato presidencial em toda a história partidária ficar do lado de fora gritando: "Fora, Bush".
Nada contra gritar "Fora, Bush" (ou quem seja). Faz parte das inúmeras graças da democracia.
Mas não é assim que as coisas funcionam entre gente séria. O correto, não fosse a caricatura que, no Brasil, chamam de política, é o PT sentar com Lula, dizer a ele tudo o que o leva a gritar "Fora, Bush" e pedir que o presidente transmita ao visitante os seus incômodos.
Não foi isso, de certo modo, o que os Estados Unidos fizeram ao divulgar, na antevéspera da chegada de Bush, relatório em que acusam gente muito próxima do presidente de participar do episódio do dossiê antitucano?
Aqui, não. O partido do presidente não tem a mais remota influência na política do governo, tampouco tem uma política alternativa a propor, por isso grita (mas não larga nenhuma das "boquinhas" que ocupa). É Brasil.


crossi@uol.com.br

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