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CLÓVIS ROSSI
Déficit de civilização
LONDRES - Desço em Heathrow,
o principal aeroporto britânico, e
logo estou no trem que, em apenas
15 minutos, vai me deixar na estação de Paddington, praticamente
no centro de Londres.
Parece o cúmulo de civilização: o
meio de transporte mais civilizado,
apenas 15 minutos para fazer um
percurso que em São Paulo só Deus
sabe quando tempo tomaria, nada
de aperto.
O banho de civilização dura apenas o tempo de começar, na telinha
do trem, o noticiário da BBC. Primeira notícia: o atentado que matou dois soldados britânicos estacionados na Irlanda do Norte, as
primeiras mortes em 12 anos, desde
que a maior parte do IRA (Exército
Republicano Irlandês) depôs as
armas.
Mas um tal de Real IRA continua
matando gratuita e estupidamente.
Menos mal que o Sinn Fein, que foi
o braço político do IRA nos tempos
dos "problemas", como se aludia
elipticamente ao conflito na Irlanda do Norte, condenou sem hesitações o atentado, ao contrário de
certas esquerdas tupiniquins que
continuam achando que as Farc são
uma força revolucionária, e não
assassinos.
Qualquer pessoa dotada de um
cérebro ativo sabe que não será matando que se vai conseguir a abolição da monarquia na Irlanda, a introdução da república e a fusão com
a outra Irlanda.
Segunda notícia: o ditador Omar
Bashir, do Sudão, aparece desafiante em Darfur, fazendo um comício
dias depois de ter sido pedida a sua
prisão pelo Tribunal Penal Internacional de Haia.
Bashir é um bárbaro, como todos
os ditadores, Darfur parece fora do
mundo civilizado -e o mundo civilizado não se incomoda.
Antes de chegar a Paddington, já
estava achando que os grampos do
delegado Protógenes Queiroz, contados pela revista "Veja", eram o
menos letal dos casos de déficit de
civilização.
crossi@uol.com.br
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