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CESAR MAIA
"Los Piqueteros"
A CRISE ARGENTINA que culminou com a queda do presidente De La Rua trouxe ao
palco político os "piqueteros", ou
desempregados que ocuparam as
ruas, praças e estradas e pararam
o país.
Os fatos explicavam a ação, violenta e incendiária. A força desses
fatos levou documentaristas a fixar
a imagem e as razões deles. O destaque foi tanto que os "piqueteros"
passaram a ser um movimento
permanente, independente da superação da crise que lhes deu origem. Como era de esperar, foram
sendo incorporados a partidos políticos e por estes usados como força de pressão.
Com isso passou a haver "piqueteros" de distintas cores, e em especial os "piqueteros" kircheristas,
ligados ao casal presidencial. "Piqueteros" profissionais, prontos a
cumprir tarefas políticas, com ou
sem razões.
A greve dos professores de São
Paulo, provavelmente partindo de
razões econômicas justificáveis, foi
vendo surgir em meio aos que protestavam uma coluna de "piqueteros" profissionais, mobilizados
partidariamente, de forma a cumprir um papel nesse processo eleitoral, a comando dos que apoiam a
candidatura do governo. E foram
até justificados pelo presidente da
República. As imagens gravadas e
disponíveis mostram que os "piqueteros" são partidários e profissionais e cumprem um papel como
braço longo daqueles interesses
eleitorais.
A superação desse fato específico
não deve deixar a sua análise cair
no esquecimento. A incrustação no
poder de dirigentes partidários e
sindicais, de movimentos, ONGs e
organizações no estilo, generosamente financiadas pelos cofres públicos, aponta para uma luta aberta, antidemocrática, violenta, com
o objetivo de criar pressões, constrangimentos e desgastes para a
oposição.
O que há de novidade nisso não é
o uso político das reivindicações
econômicas, há tanto tempo conhecido, mas uma organização paralela, paramilitar, permanente,
que surge nesse processo eleitoral,
formatada como os "piqueteros"
profissionais. A Alemanha dos
anos 20 traz memória similar.
Dois desdobramentos são institucionalmente preocupantes.
O primeiro, no próprio processo
eleitoral, em que, em cima do palanque esteja a retórica apaziguadora, mas embaixo estejam os "piqueteros" orientados para os mesmos objetivos. O segundo é que se
deixe essas milícias políticas prosperarem e, numa alternância política própria da democracia, venham, como elemento de desestabilização política, afetar as instituições democráticas brasileiras.
Que se corte o mal pela raiz a
tempo e a hora para que a democracia brasileira siga seu rumo de
aperfeiçoamento, longe dos estímulos "bolivarianos".
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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