São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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O DÓLAR E O EURO

O apetite dos investidores estrangeiros por ativos americanos pode estar diminuindo. Por outro lado, os investidores americanos começam a enviar mais recursos para o exterior, em parte para diversificar suas carteiras. A menor entrada de recursos estrangeiros e a maior saída de capitais americanos alimentam as preocupações sobre o financiamento do enorme déficit em conta corrente dos Estados Unidos.
O fluxo de capital estrangeiro para os EUA foi intenso no quarto trimestre de 2001. De acordo com o Fed (banco central dos EUA), os investidores compraram US$ 556,8 bilhões de ativos financeiros americanos, representando 28,1% da oferta total de crédito doméstico e, permitindo a elevação do endividamento das famílias e das corporações.
Os EUA, para manter o seu crescimento, se tornaram mais dependentes da poupança externa. Ela financiou grande parte da expansão americana durante os anos 90.
O elevado déficit em conta corrente do balanço de pagamentos dos EUA possibilitou essa dinâmica, enxugando riqueza e capacidade de investimento dos outros países. Se houver uma ampliação na tendência de queda nos investimentos estrangeiros nos EUA e de saída de capitais americanos, o ajuste poderá ocorrer pelo desaquecimento da demanda interna e/ou pela desvalorização do dólar, com graves implicações para a economia mundial e para os mercados financeiros internacionais. Desde 1º de abril, o dólar já acumula desvalorização de 3,8% em relação ao euro, e vão surgindo dúvidas sobre a sustentabilidade e a durabilidade da recuperação americana.
Lentamente, o euro vai ampliando seu espaço nas operações financeiras internacionais. Segundo o BIS, em fins de setembro de 2001, no mercado de crédito bancário, o estoque em dólar atingiu 43,5% do total; o em euro, 30%. Em dezembro passado, do total do estoque de títulos de dívida no mercado global, 48,1% estavam denominados em dólar e 32,5%, em euro. A consolidação do euro como uma efetiva moeda internacional, se de fato vier a ocorrer, pode reduzir a capacidade dos EUA de realizar políticas unilaterais à custa do resto do mundo e, portanto, exigir uma maior coordenação das políticas macroeconômicas entre os principais países desenvolvidos e em desenvolvimento.



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