São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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MARCELO BERABA

A onda pentecostal

RIO DE JANEIRO - O Censo 2000 ajuda a entender a forte presença dos evangélicos na eleição deste ano. Ela é consequência natural do crescimento das igrejas pentecostais nas últimas duas décadas.
Durante quase 80 anos, os evangélicos estiveram às margens da vida política, dedicados ao trabalho de propagação da Bíblia e preocupados em sobreviver aos preconceitos de um ambiente hostil dominado por uma maioria católica.
A explosão evangélica, considerada um dos grandes fenômenos sociais do país na segunda metade do século passado, ocorre a partir do final da década de 70 e deve ser parcialmente creditada à combatida e polêmica Igreja Universal do Reino de Deus.
É essa igreja, fundada em 1977, que quebra dois tabus que refreavam as igrejas protestantes: o uso intensivo de meios de comunicação, principalmente a TV, e a participação sem pruridos na vida política.
Do final do século 19 aos primeiros decênios do século 20, os evangélicos representavam cerca de 1% da população brasileira. Eram imigrantes e seus descendentes enraizados no Sul e adeptos do protestantismo tradicional, como a Igreja Luterana.
Os pentecostais, com seus compromissos de conversão e expansão, surgem no início do século 20 e crescem lentamente até o final da década de 60, quando são 4,8 milhões. O grande salto se dá nos anos 70. O censo de 80 registra 7,8 milhões, o de 91, 13 milhões e, agora, 26,1 milhões.
É esse crescimento vertiginoso e a disposição de criar uma representação política proporcional que explicam a multiplicação das candidaturas políticas deste ano, incluindo pela primeira vez uma presidencial.
O que não significa, necessariamente, que haverá um "voto evangélico". A estratégia agressiva da Universal, adotada hoje por várias igrejas, não é uma unanimidade. Como observa o antropólogo Flávio Cesar Conrado, enquanto algumas oram por seus candidatos, a maioria ainda ora pelas eleições, ou seja, para que vençam os melhores, independentemente da vinculação religiosa.


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