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MARCELO BERABA
A onda pentecostal
RIO DE JANEIRO - O Censo 2000 ajuda a entender a forte presença dos
evangélicos na eleição deste ano. Ela
é consequência natural do crescimento das igrejas pentecostais nas últimas duas décadas.
Durante quase 80 anos, os evangélicos estiveram às margens da vida política, dedicados ao trabalho de propagação da Bíblia e preocupados em
sobreviver aos preconceitos de um
ambiente hostil dominado por uma
maioria católica.
A explosão evangélica, considerada
um dos grandes fenômenos sociais do
país na segunda metade do século
passado, ocorre a partir do final da
década de 70 e deve ser parcialmente
creditada à combatida e polêmica
Igreja Universal do Reino de Deus.
É essa igreja, fundada em 1977, que
quebra dois tabus que refreavam as
igrejas protestantes: o uso intensivo
de meios de comunicação, principalmente a TV, e a participação sem
pruridos na vida política.
Do final do século 19 aos primeiros
decênios do século 20, os evangélicos
representavam cerca de 1% da população brasileira. Eram imigrantes e
seus descendentes enraizados no Sul
e adeptos do protestantismo tradicional, como a Igreja Luterana.
Os pentecostais, com seus compromissos de conversão e expansão, surgem no início do século 20 e crescem
lentamente até o final da década de
60, quando são 4,8 milhões. O grande
salto se dá nos anos 70. O censo de 80
registra 7,8 milhões, o de 91, 13 milhões e, agora, 26,1 milhões.
É esse crescimento vertiginoso e a
disposição de criar uma representação política proporcional que explicam a multiplicação das candidaturas políticas deste ano, incluindo pela
primeira vez uma presidencial.
O que não significa, necessariamente, que haverá um "voto evangélico". A estratégia agressiva da Universal, adotada hoje por várias igrejas, não é uma unanimidade. Como
observa o antropólogo Flávio Cesar
Conrado, enquanto algumas oram
por seus candidatos, a maioria ainda
ora pelas eleições, ou seja, para que
vençam os melhores, independentemente da vinculação religiosa.
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