|
Próximo Texto | Índice
CÂMBIO TORTURANTE
As críticas à conivência do
Banco Central com a valorização exagerada do real frente ao dólar
não encontraram eco no círculo de
ferro que conduz a política econômica do governo Lula. O dólar fechou
em queda pelo quarto dia seguido e
encerrou a semana no valor mais baixo em quase dez meses, a R$ 2,87.
O BC sob Henrique Meirelles, seguindo a mesma lógica dos últimos
anos, quando a instituição foi comandada por outros financistas, cria
um suposto choque de credibilidade
ao colocar o dólar no chão.
Um número cada vez maior de economistas, no entanto, alerta para o
horizonte de curto prazo desse choque supostamente positivo.
Por se valer de juros altos para provocar a queda do dólar, essa política
deprime setores produtivos e é insustentável em médio e longo prazos.
Por sufocar os setores exportadores, esse modelo é autodestrutivo,
pois a queda nas exportações fatalmente levará a uma queda do saldo
no comércio exterior, produzindo
nova pressão cambial no futuro.
As razões rotineiramente apontadas pelos financistas para defender a
manutenção de juros elevados novamente estão superadas. A inflação já
dá sinais de queda. O ajuste fiscal é
significativo, gerando resultados que
estão acima das metas do FMI. O governo Lula cumpre o roteiro fixado
por esse organismo e pressiona o
Congresso pelas reformas.
Se o dólar cai sobretudo porque
bancos trazem recursos de curto prazo para ganhar com os juros altos e
desaparecem as razões para manter
os juros altos, o BC deveria mudar as
diretrizes de sua política econômica.
Mas, talvez, não se deva nutrir muita esperança de que um BC comandado por uma equipe que pensa de
maneira muito semelhante à dos financistas altere política econômica
tão benéfica para o setor bancário.
Os lucros estratosféricos exibidos
pelas instituições financeiras não são
casuais. Eles resultam de uma política econômica que transfere renda de
toda a sociedade para os intermediários de um modelo que tortura todos
os que desejam trabalhar e produzir.
Próximo Texto: Editoriais: A SEGUNDA FASE Índice
|