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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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CÂMBIO TORTURANTE

As críticas à conivência do Banco Central com a valorização exagerada do real frente ao dólar não encontraram eco no círculo de ferro que conduz a política econômica do governo Lula. O dólar fechou em queda pelo quarto dia seguido e encerrou a semana no valor mais baixo em quase dez meses, a R$ 2,87.
O BC sob Henrique Meirelles, seguindo a mesma lógica dos últimos anos, quando a instituição foi comandada por outros financistas, cria um suposto choque de credibilidade ao colocar o dólar no chão.
Um número cada vez maior de economistas, no entanto, alerta para o horizonte de curto prazo desse choque supostamente positivo.
Por se valer de juros altos para provocar a queda do dólar, essa política deprime setores produtivos e é insustentável em médio e longo prazos.
Por sufocar os setores exportadores, esse modelo é autodestrutivo, pois a queda nas exportações fatalmente levará a uma queda do saldo no comércio exterior, produzindo nova pressão cambial no futuro.
As razões rotineiramente apontadas pelos financistas para defender a manutenção de juros elevados novamente estão superadas. A inflação já dá sinais de queda. O ajuste fiscal é significativo, gerando resultados que estão acima das metas do FMI. O governo Lula cumpre o roteiro fixado por esse organismo e pressiona o Congresso pelas reformas.
Se o dólar cai sobretudo porque bancos trazem recursos de curto prazo para ganhar com os juros altos e desaparecem as razões para manter os juros altos, o BC deveria mudar as diretrizes de sua política econômica.
Mas, talvez, não se deva nutrir muita esperança de que um BC comandado por uma equipe que pensa de maneira muito semelhante à dos financistas altere política econômica tão benéfica para o setor bancário.
Os lucros estratosféricos exibidos pelas instituições financeiras não são casuais. Eles resultam de uma política econômica que transfere renda de toda a sociedade para os intermediários de um modelo que tortura todos os que desejam trabalhar e produzir.


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