|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Batalha da caderneta
NO MUNDO contemporâneo, das finanças flexíveis, as taxas de juros das
aplicações são estabelecidas, em
larga medida, pela lei da oferta e
da procura. Um papel que ofereça juros elevados para o risco que
embute tende a atrair compradores. A entrada maciça de novos compradores, por sua vez,
age no sentido contrário: diminui os juros dessas aplicações.
Herança de outros tempos, a
caderneta de poupança, no Brasil, não obedece a esse princípio.
Sua remuneração mínima, de
0,5% ao mês, está fixada em lei.
Atraia ou afaste investidores, o
rendimento será o mesmo.
Só é possível alterar a remuneração da poupança, portanto,
com alguma operação normativa. Mas mexer nas regras da caderneta, como o governo Lula
começa a perceber, pode prejudicar as aspirações eleitorais da
situação em 2010.
Carente de bandeiras para enfrentar um governo com popularidade ainda alta, a oposição já
explora o assunto. Evoca o trauma do confisco da poupança no
governo Collor a fim de constranger o Planalto, que assimilou
o golpe e hesita em propor mudanças maiores na aplicação.
Mestre do equilibrismo político, o presidente Lula vê-se diante de um dilema. Os juros básicos
do Banco Central -hoje em
10,25% ao ano- se aproximam
depressa da remuneração da
poupança. Se o ganho desta aplicação não for reduzido, a continuidade da queda histórica da taxa Selic ficará comprometida.
Não é possível ter tudo: ou o
custo do dinheiro no Brasil converge para as taxas módicas praticadas em nações semelhantes
ou as regras da caderneta de poupança, concebidas para um ambiente de inflação alta e economia fechada, são mantidas.
Como talvez não haja, nos próximos anos, outra oportunidade
tão clara de baixar de vez o patamar dos juros no país, Lula deveria escolher a primeira opção.
Texto Anterior: Editoriais: Outra farra Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A gripe, o enxofre, o bolso, a vida Índice
|