São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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Editoriais

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Batalha da caderneta

NO MUNDO contemporâneo, das finanças flexíveis, as taxas de juros das aplicações são estabelecidas, em larga medida, pela lei da oferta e da procura. Um papel que ofereça juros elevados para o risco que embute tende a atrair compradores. A entrada maciça de novos compradores, por sua vez, age no sentido contrário: diminui os juros dessas aplicações.
Herança de outros tempos, a caderneta de poupança, no Brasil, não obedece a esse princípio. Sua remuneração mínima, de 0,5% ao mês, está fixada em lei. Atraia ou afaste investidores, o rendimento será o mesmo.
Só é possível alterar a remuneração da poupança, portanto, com alguma operação normativa. Mas mexer nas regras da caderneta, como o governo Lula começa a perceber, pode prejudicar as aspirações eleitorais da situação em 2010.
Carente de bandeiras para enfrentar um governo com popularidade ainda alta, a oposição já explora o assunto. Evoca o trauma do confisco da poupança no governo Collor a fim de constranger o Planalto, que assimilou o golpe e hesita em propor mudanças maiores na aplicação.
Mestre do equilibrismo político, o presidente Lula vê-se diante de um dilema. Os juros básicos do Banco Central -hoje em 10,25% ao ano- se aproximam depressa da remuneração da poupança. Se o ganho desta aplicação não for reduzido, a continuidade da queda histórica da taxa Selic ficará comprometida.
Não é possível ter tudo: ou o custo do dinheiro no Brasil converge para as taxas módicas praticadas em nações semelhantes ou as regras da caderneta de poupança, concebidas para um ambiente de inflação alta e economia fechada, são mantidas.
Como talvez não haja, nos próximos anos, outra oportunidade tão clara de baixar de vez o patamar dos juros no país, Lula deveria escolher a primeira opção.


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