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PRIMEIRO TESTE
O ataque conjunto que os três
mais importantes grupos extremistas palestinos desfecharam
contra alvos israelenses anteontem é
o primeiro desafio ao novo plano de
paz para a região. Ninguém familiarizado com o conflito no Oriente Médio poderia imaginar que a implementação do acordo transcorreria
sem obstáculos ou provocações por
parte de radicais de ambos os lados.
Resta agora saber como os líderes israelense e palestino vão reagir a esse
primeiro teste.
O ataque chama a atenção por ter
sido orquestrado. Foram raras as
ocasiões anteriores em que o Hamas,
o Jihad Islâmico e a Brigada dos Mártires de Al Aqsa se uniram para realizar ações conjugadas. O simples fato
de o terem feito já dá um caráter especial à iniciativa, que também fugiu
ao padrão em seus aspectos operacionais. Diferentemente das dezenas
de atentados contra civis israelenses,
as ações de anteontem não podem
ser automaticamente qualificadas de
terroristas. Os alvos eram militares e
se encontravam em territórios palestinos ocupados por Israel. A maior
parte da opinião pública árabe e boa
parte da mundial entende esse tipo
de ataque como uma atitude legítima
numa guerra de libertação.
Há duas maneiras de interpretar o
ataque conjunto: ou os palestinos estão à beira de uma guerra civil ou os
grupos mais radicais quiseram dar
um recado ao premiê palestino, Abu
Mazen, que conduz as negociações
com Israel. A segunda hipótese parece mais plausível. Se os radicais quisessem sepultar definitivamente o
processo de paz, teriam realizado
um grande atentado que vitimasse
muitos civis israelenses. Como optaram por uma ação "militar", sinalizam para Abu Mazen que ele fez concessões demais na cúpula de Ácaba.
O premiê israelense, Ariel Sharon,
por seu turno, já deu indicações de
que não prepara nenhuma grande
retaliação aos ataques. O processo de
paz, por ora, segue de pé. Mas armadilhas ainda piores que as de anteontem vão surgir, e os dois líderes precisarão estar à altura dos desafios para concluir o acordo de paz.
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