São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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O ACORDO E A POLÍTICA

Um desastre financeiro no Brasil não ajudaria o debate sereno das idéias no processo sucessório. Tampouco garantiria uma troca de governantes relativamente tranquila. Portanto, para o país, foi melhor ter fechado o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Isso posto, pode-se começar a especular acerca dos efeitos desse "fato novo" sobre as principais candidaturas que postulam o Planalto.
Alguns dizem que o principal beneficiado, individualmente, seria o candidato governista, José Serra. Por ter suas perspectivas eleitorais atreladas ao desempenho do governo FHC, Serra é, em tese, o que mais sofre com notícias negativas do Executivo e o que mais ganha com as positivas. A ascensão de Ciro Gomes, além de estar vinculada a aparições maciças na TV e no rádio no mês de junho, deu-se no mesmo momento em que, de acordo com o Datafolha, a popularidade de FHC sofreu abalo.
Mas o encadeamento de fatores necessários para que, do empréstimo do FMI, se chegue à melhora significativa nas percepções sobre o emprego e a renda é bastante complexo e sujeito a muitas interferências. O Brasil, nos últimos anos, nunca esteve tão diretamente atrelado aos humores da economia norte-americana como está agora. E a economia norte-americana passa por um momento de extrema volatilidade, como há muito não se via.
A julgar apenas por ontem, as perspectivas para a chapa governista não melhoraram. Foi de refluxo a sexta-feira que se seguiu ao dia de euforia dos mercados em relação ao Brasil -devido ao anúncio do pacto com o FMI. O que se ganhara na véspera em termos de valorização do real e de diminuição do risco Brasil foi perdido. E isso no mesmo dia em que se anunciava um empréstimo adicional do BID e do Bird, totalizando US$ 7 bilhões, para o país.
A manter-se o atual cenário de tensão nos mercados -mas sem uma ruptura caracterizada, por exemplo, por calotes em cadeia na dívida externa privada do país ou por uma medida defensiva extrema como a centralização do câmbio-, será de esperar que, em vez da chapa de Serra, a oposição ao governo FHC seja a mais beneficiada pelo socorro do Fundo ao Brasil, por mais paradoxal que essa tese possa parecer.


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