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O ACORDO E A POLÍTICA
Um desastre financeiro no
Brasil não ajudaria o debate sereno das idéias no processo sucessório. Tampouco garantiria uma troca
de governantes relativamente tranquila. Portanto, para o país, foi melhor ter fechado o acordo com o Fundo Monetário Internacional. Isso
posto, pode-se começar a especular
acerca dos efeitos desse "fato novo"
sobre as principais candidaturas que
postulam o Planalto.
Alguns dizem que o principal beneficiado, individualmente, seria o
candidato governista, José Serra. Por
ter suas perspectivas eleitorais atreladas ao desempenho do governo
FHC, Serra é, em tese, o que mais sofre com notícias negativas do Executivo e o que mais ganha com as positivas. A ascensão de Ciro Gomes,
além de estar vinculada a aparições
maciças na TV e no rádio no mês de
junho, deu-se no mesmo momento
em que, de acordo com o Datafolha,
a popularidade de FHC sofreu abalo.
Mas o encadeamento de fatores necessários para que, do empréstimo
do FMI, se chegue à melhora significativa nas percepções sobre o emprego e a renda é bastante complexo e
sujeito a muitas interferências. O
Brasil, nos últimos anos, nunca esteve tão diretamente atrelado aos humores da economia norte-americana
como está agora. E a economia norte-americana passa por um momento de extrema volatilidade, como há
muito não se via.
A julgar apenas por ontem, as perspectivas para a chapa governista não
melhoraram. Foi de refluxo a sexta-feira que se seguiu ao dia de euforia
dos mercados em relação ao Brasil
-devido ao anúncio do pacto com o
FMI. O que se ganhara na véspera em
termos de valorização do real e de diminuição do risco Brasil foi perdido.
E isso no mesmo dia em que se
anunciava um empréstimo adicional
do BID e do Bird, totalizando US$ 7
bilhões, para o país.
A manter-se o atual cenário de tensão nos mercados -mas sem uma
ruptura caracterizada, por exemplo,
por calotes em cadeia na dívida externa privada do país ou por uma medida defensiva extrema como a centralização do câmbio-, será de esperar
que, em vez da chapa de Serra, a oposição ao governo FHC seja a mais beneficiada pelo socorro do Fundo ao
Brasil, por mais paradoxal que essa
tese possa parecer.
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