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O RISCO DOS FUNDOS
O modelo previdenciário privado dos Estados Unidos foi a
principal referência para as reformas
do setor em diversos países, sobretudo os latino-americanos. Com ativos
de US$ 5,5 trilhões em março de
2003, após realizar perdas de US$ 1,3
trilhão devidas à desvalorização do
mercado acionário, o sistema enfrenta graves problemas. O secretário do Tesouro norte-americano,
John Snow, admitiu que a crise dos
fundos de pensão poderá resultar em
falências semelhantes às ocorridas
na área de poupança e empréstimos
imobiliários entre 1989-1991.
A maior parte da previdência privada (92%) nos EUA segue o modelo
da contribuição definida, ou seja, o
valor da aposentadoria não é fixado
previamente. É o mesmo adotado na
proposta de reforma da Previdência
do governo brasileiro.
Essa opção, embora resulte em incertezas quanto ao ganho futuro,
praticamente não traz riscos ao setor
público. De fato, o principal foco da
crise americana são os fundos de benefício definido, que prometem aposentadoria de valor pré-fixado, sem
considerar o rendimento dos investimentos. Segundo a agência federal
Pension Benefit Guaranty Corporation (PBGC), responsável por garantir as aposentadorias em caso de falência das empresas, haveria um déficit atuarial de US$ 350 bilhões nesses planos, que deverá exigir ajuda
do Tesouro americano.
Durante os anos 90, foram introduzidos fundos privados de capitalização nos sistemas de pensão dos países latino-americanos. A reforma na
Bolívia (1997), no México (1997) e em
El Salvador (1998) seguiu a trilha
aberta pelo modelo chileno (1981).
Os antigos sistemas apoiados em
contribuições de trabalhadores e empresários foram substituídos compulsoriamente por planos de capitalização individuais.
No Peru (1993) e na Colômbia
(1994), o modelo público baseado
em contribuições não foi eliminado,
apenas criada a possibilidade de
competição com o sistema privado
de capitalização.
Na Argentina (1994) e no Uruguai
(1996), o sistema público foi reformado para contribuições definidas e
benefícios indefinidos, preservando-se uma pensão básica universal, e
criando-se um sistema privado de
contas individuais capitalizadas.
As avaliações sobre as performances dos fundos nos países latino-americanos não são alentadoras. Em
primeiro lugar, os custos administrativos e as comissões cobradas sobre o fluxo de capital, e não sobre a
rentabilidade, são muito elevadas,
variando de 14% (Chile) a 27% (Argentina). Isso pode acabar resultando em taxas de retorno negativas. Em
segundo lugar, o setor apresenta elevado grau de concentração, o que limita a liberdade de escolha dos indivíduos. Em terceiro lugar, a composição das carteiras de investimento
tem sido muito focada em títulos públicos. A moratória da Argentina resultou em graves perdas para os fundos que detinham papéis do país, inclusive no Chile.
Tudo isso deve servir de alerta para
o Brasil. A preservação do patrimônio dos trabalhadores públicos e privados exige regras claras e boa fiscalização com o objetivo de assegurar
eficiência, baixos custos administrativos e saudável composição dos
portfólios de investimentos.
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