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MARINA SILVA
Um pequeno desvio
NO RECENTE congresso da
Central Única dos Trabalhadores (CUT), lembrei-me da frase de Edgar Morin que já
citei aqui: no começo, as grandes
mudanças são apenas um pequeno
desvio de percurso.
O desvio do desenvolvimento
sustentável vem sendo construído
no Brasil há pelo menos 30 anos,
como vereda aberta à base de conhecimento novo, experimentos
locais de sucesso e modelos institucionais ainda restritos, mas de
grande potencial para ganhar escala nacional. Tem a consistência e a
força da construção coletiva paulatina que, num determinado momento, não mais mero desvio, disputa o leito principal.
Quando a CUT foi fundada, em
1984, Chico Mendes conseguiu
aprovar apenas a expressão "reforma agrária específica para a Amazônia", mas já era a cunha para
mostrar o equívoco de lutar pela
distribuição de terras na região segundo o modelo utilizado no Sul-Sudeste, de lotes a serem inteiramente desmatados. A nossa "reforma agrária" se ancorava na visão
que defendia um modelo de exploração econômica diversificada da
floresta, com base em sua manutenção, e não em sua derrubada.
Não foi um caminho fácil, mas
hoje a CUT debate os temas ambientais como estratégicos para os
trabalhadores e criou sua Secretaria Nacional do Meio Ambiente.
E não só ela. A Força Sindical e a
recém-criada Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
têm secretarias para a defesa do
meio ambiente. A Confederação
Sindical das Américas, fruto da fusão de várias centrais, nasceu em
2008 com uma Diretoria de Economia e Desenvolvimento Sustentável. Em âmbito global existe a
Fundação Sustainlabor, que reúne
sindicalistas que atuam nas causas
ambientais.
Há não muito tempo, era majoritária nesse meio a tese de que a defesa do meio ambiente não se constituía em prioridade para os trabalhadores ou, até mesmo, poderia
ser considerada contrária a seus interesses. Hoje, o conceito de justiça
e o entendimento de melhor distribuição de riquezas incluem a qualidade ambiental. Também pesou
nessa inflexão a ampliação do conhecimento sobre a conexão entre
um estilo predatório e consumista
de desenvolvimento e as grandes
ameaças que afetam bilhões de
pessoas no mundo.
No congresso da CUT, a professora Tânia Bacelar disse que "o debate sobre sustentabilidade ambiental vive uma batalha definitiva
no Brasil, que estará no olho do furacão dessa discussão em todo o
mundo". Creio que o país está
pronto para assumir essa responsabilidade. Pelo menos a sociedade
afirma insistentemente, das mais
diversas maneiras, que é essa a sua
vontade.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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