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CARLOS HEITOR CONY
Eleitor emérito
RIO DE JANEIRO - Assisti sem entusiasmo e nenhum fervor cívico ao
primeiro debate dos presidenciáveis. Antes, a Bandeirantes exibiu
flashes de debates anteriores, que
pelo menos eram mais divertidos.
Tinha Enéas prometendo bomba
atômica para o Brasil, Mário Covas
e Jânio Quadros se descompondo,
Brizola reclamando da parcialidade da mediadora, Collor acabando
com os marajás, Lula de barba espessa e negra cobrando mais liberdade sindical. Um show.
O debate da semana passada foi
civilizado, mas óbvio, até mesmo
chato. Os candidatos principais,
Dilma e Serra, são convergentes,
saíram da esquerda, têm programas paralelos ou complementares,
um promete asfaltar 350 mil quilômetros de estrada, a outra promete
asfaltar 345 mil quilômetros -as diferenças vão por aí.
Predominou em Dilma o ataque
disfarçado ou ostensivo à gestão de
FHC e, na mesma escala, Serra criticou o governo Lula do qual a adversária fez parte.
Marina expressou seu tema preferencial, o meio ambiente, no qual
navega com incontestável autoridade, e Plínio, o único intelectual
por ofício da turma, foi talvez o diferencial, com um discurso mais amplo, estrutural.
Enquanto os outros se contentaram com questões pontuais, mais
isso e mais aquilo, menos despesa e
mais renda, Plínio questionou o
modelo social, com a óptica da esquerda que afinal gerou os quatro
candidatos.
Apesar de tudo, acredito que virão outros debates e não será por
falta de informação que o eleitorado ficará ignorando quem é quem.
O que não impedirá a frustração
posterior em grau maior ou menor
conforme o andar da carruagem.
Como não votarei em nenhum
deles (por tempo de serviço, considero-me eleitor emérito), torço para
que tudo dê certo para todos.
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