São Paulo, quarta-feira, 10 de agosto de 2011

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RUY CASTRO

Elites inconformadas

RIO DE JANEIRO - Uma das qualidades que se exigem de um palestrante é a capacidade de seduzir a plateia. Parece óbvio, mas não é. Há alguns que, por falta de prática, de vocação ou mesmo de estado de espírito, induzem o espectador a algo próximo da sonolência, do coma ou do rigor mortis. Mais indispensável ainda é respeitar a língua da plateia. Há tempos, falando para escolares da 4ª série, sem querer citei o Kierkegaard. Eles só aplaudiram por educação.
O ex-presidente Lula nunca cometeu essa gafe. Em seus oito anos como presidente, ao falar para sem-terra, operários, sindicalistas, cabos eleitorais, estudantes ou mesmo intelectuais, ele jamais citou Kierkegaard. Em vez disso, foi incansável em sua peroração contra as elites -de como elas não se conformavam com o fato de que um metalúrgico nordestino e sem diploma tivesse chegado aonde chegou para fazer tudo o que elas sempre se negaram a fazer pelo Brasil e, por isso, torciam para o país dar errado e elas retomarem o poder.
Lula é hoje um dos mais bem-sucedidos palestrantes do planeta. Cobra US$ 300 mil líquidos por palestra no exterior; R$ 200 mil, no Brasil; e faz uma média de três por mês. Esses valores estão fora do alcance da bolsa dos sem-terra, operários, sindicalistas, mas o que ele tinha de falar para esse pessoal, já falou. E, se tiver de falar de novo -no caso de uma possível nova campanha presidencial-, fará isso de graça, nos palanques.
As novas plateias de Lula, aqui e lá fora, se compõem de banqueiros, economistas, investidores, empresários, conselheiros de empresas, grandes executivos, especuladores de alto bordo, lideranças políticas, autoridades governamentais, instituições internacionais, especialistas, fundações, ONGs.
Por acaso, justamente as pavorosas elites que nunca se conformaram com o fato de que um metalúrgico nordestino etc. etc.


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