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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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NÃO BASTA LER

A meta é ambiciosa, possivelmente infactível, mas o esforço precisa ser feito. O plano do governo de erradicar o analfabetismo até 2006, ainda que temperado por um saudável ceticismo, merece o apoio de todos. Trata-se de um daqueles casos em que empresas e mesmo cidadãos comuns podem ajudar, identificando analfabetos em seus círculos e convencendo-os a participar de um programa de aprendizagem. Como muitos iletrados procuram esconder essa condição, a primeira dificuldade com que iniciativas de alfabetização em massa se deparam é justamente localizar o público-alvo.
Esse, porém, não é o único nem o maior obstáculo. Vários esforços semelhantes já fracassaram no passado. Muitos se lembrarão do Mobral do governo militar nos anos 70. É de esperar que se tenha aprendido com os erros do passado.
Um dos pontos mais sensíveis é o da continuidade. É até possível ensinar em três ou quatro meses um analfabeto a juntar letras e identificar palavras. Se ele não seguir se exercitando na leitura, porém, tende a esquecer o que aprendeu. Na melhor das hipóteses, será mais um analfabeto funcional, isto é, alguém capaz de balbuciar frases, mas não de compreendê-las.
O problema do analfabetismo funcional, vale dizê-lo, não está circunscrito aos cursos de alfabetização. Ele está presente na rede regular de ensino, inclusive em nível superior. Pesquisa do Ibope revela que 38% dos brasileiros podem ser considerados analfabetos funcionais. Pelo levantamento, apenas 25% dos cidadãos acima de 15 anos têm domínio pleno da leitura e da escrita.
Os caminhos escolhidos pelo governo para garantir a continuidade parecem tímidos. O risco, portanto, é o programa tornar-se apenas um eventual sucesso nas estatísticas sem que a nova habilidade corresponda a uma mudança qualitativa na vida do cidadão -o que ocorreria se ele continuasse estudando ou ao menos cultivando o hábito da leitura.


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