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NÃO BASTA LER
A meta é ambiciosa, possivelmente infactível, mas o esforço
precisa ser feito. O plano do governo
de erradicar o analfabetismo até
2006, ainda que temperado por um
saudável ceticismo, merece o apoio
de todos. Trata-se de um daqueles
casos em que empresas e mesmo cidadãos comuns podem ajudar, identificando analfabetos em seus círculos e convencendo-os a participar de
um programa de aprendizagem. Como muitos iletrados procuram esconder essa condição, a primeira dificuldade com que iniciativas de alfabetização em massa se deparam é
justamente localizar o público-alvo.
Esse, porém, não é o único nem o
maior obstáculo. Vários esforços semelhantes já fracassaram no passado. Muitos se lembrarão do Mobral
do governo militar nos anos 70. É de
esperar que se tenha aprendido com
os erros do passado.
Um dos pontos mais sensíveis é o
da continuidade. É até possível ensinar em três ou quatro meses um
analfabeto a juntar letras e identificar
palavras. Se ele não seguir se exercitando na leitura, porém, tende a esquecer o que aprendeu. Na melhor
das hipóteses, será mais um analfabeto funcional, isto é, alguém capaz
de balbuciar frases, mas não de compreendê-las.
O problema do analfabetismo funcional, vale dizê-lo, não está circunscrito aos cursos de alfabetização. Ele
está presente na rede regular de ensino, inclusive em nível superior. Pesquisa do Ibope revela que 38% dos
brasileiros podem ser considerados
analfabetos funcionais. Pelo levantamento, apenas 25% dos cidadãos
acima de 15 anos têm domínio pleno
da leitura e da escrita.
Os caminhos escolhidos pelo governo para garantir a continuidade
parecem tímidos. O risco, portanto,
é o programa tornar-se apenas um
eventual sucesso nas estatísticas sem
que a nova habilidade corresponda a
uma mudança qualitativa na vida do
cidadão -o que ocorreria se ele continuasse estudando ou ao menos cultivando o hábito da leitura.
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