São Paulo, sexta-feira, 10 de setembro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O plebiscito do B

SÃO PAULO - A tese é de minha chefe, Suzana Singer, secretária de Redação desta Folha: a eleição paulistana é, na verdade, um plebiscito sobre Marta Suplicy, a pessoa e a prefeita.
Se é assim -e acho que seja-, Marta deve ter sentido que a coisa está feia para o lado dela e resolveu inventar um segundo plebiscito ao federalizar uma eleição que vinha sendo quase exclusivamente local.
Só assim pode-se interpretar a alucinação da prefeita sobre o risco institucional representado por uma eventual vitória de José Serra. Já ao assustar as criancinhas com a teoria, Marta admite a hipótese de derrota.
Piora as coisas ao eliminar um segundo mandato para Luiz Inácio Lula da Silva. Sim, foi uma distração, mas está lá: a prefeita prevê "dois anos" de confronto entre Serra prefeito e Lula presidente. Se contasse com a reeleição de Lula, diria "dois ou quatro anos" (ou mais dois, se Serra também se reeleger).
Com isso, haverá, se a tática de Marta colar, um, digamos, plebiscito do B: você vai votar contra ou a favor de Marta, mas também contra ou a favor do projeto federal do PT, que supostamente ficará abalado pela vitória de Serra.
A menos que tenha avaliações que indiquem que a vitória de Serra é mais provável do que apontam as pesquisas até agora, a tática de Marta beira a temeridade. Primeiro por introduzir uma questão institucional que não existe.
Ainda que Serra pretenda de fato dinamitar o governo Lula, a prefeitura paulistana não é exatamente uma praça forte capaz de arranhar o governo federal (ainda que o inverso seja menos improvável).
Segundo porque, se o plebiscito do B colar e Marta perder, perdem ela e Lula de uma vez e, de quebra, os demais caciques federais do PT.
Aliás, os tucanos dirão, de qualquer modo, que, se for assim, será uma derrota também de Lula. Mas estariam mentindo se a prefeita não desse verossimilhança à teoria.


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