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JOSÉ SARNEY
A agonia do "JB"
O "Jornal do Brasil" nasceu
em 1891, fundado por Rodolfo
Dantas, filho do Conselheiro
Dantas, lendária figura do Império, para combater a República. Eram os viúvos da Monarquia, como dizia Nabuco,
que formavam sua equipe de
enfrentamento.
Entre eles, além do dono, o
próprio Nabuco, José Veríssimo e Rio Branco.
Saiu com desejos de inovação: desenho gráfico diferente
e distribuição com a grande
novidade de usar carroças. Logo foi fechado por Floriano,
em 1894, quando seu redator-chefe era Rui Barbosa, republicano histórico. Mudou de
proprietário e de rumo.
Jornal naquele tempo era
marcado pelas figuras que nele escreviam. Não se destinava
a produzir e divulgar notícias,
coisa adjetiva, mas a difundir
ideias, empunhar uma causa,
servir a um partido político ou
combater um governo. Muitos
deles descambavam para a
pasquinagem.
No Maranhão, quando comecei a trabalhar em jornal,
eles eram iguais aos do século
19. O velho jornalista maranhense Nascimento de Morais, meu professor no Liceu e,
paradoxalmente, meu colega
de redação em "O Imparcial",
dizia: "Artigo que se preza para vergastar adversário tem
que ter "sevandija'" (verme
imundo), palavra em desuso.
Fui correspondente do "JB"
no Maranhão durante sete
anos. Sua proprietária era a
viúva do conde Pereira Carneiro, Maurina Dunshee de
Abranches, filha do professor
Dunshee de Abranches, maranhense, dono do Colégio Coração de Jesus, que existiu até a
década de 40. Ela visitava
sempre o Estado, onde eu a
acompanhava.
Certa vez, em São Luís, ela
quis visitar dona Graça, senhora de renome na cidade,
proprietária da Fábrica Têxtil
Anil, localizada no bairro onde seu pai mantinha o colégio
e onde morara na infância.
Dona Graça, já idosa, ao vê-la,
exclamou: "Maurina, filhinha
do professor Dunshee, a Neném Abranches, aqui do Anil,
é a condessa? Que surpresa."
Recordo a condessa Pereira
Carneiro, mulher inteligente,
culta e líder, alma oculta do
jornal, que bancou sua modernização com a resistência da
velha guarda, tendo à frente
Aníbal Freire.
Encarregou a tarefa a Odylo
Costa, filho, legendário nome
da imprensa brasileira, construtor de equipe, poeta e jornalista consagrado, com
imenso prestígio na classe,
além de ser um homem bom e
de grande caráter, muito ligado a Virgílio de Melo Franco e
ao brigadeiro Eduardo Gomes.
Chateaubriand dizia que
doença que mata jornal leva
dez anos. A do "JB" foi uma
agonia lenta e levou décadas.
Muitos tentaram salvá-lo.
Deixou um vazio e a lembrança de um emblemático órgão que documentou e influiu
na história do Brasil.
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta
coluna.
jose-sarney@uol.com.br
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