São Paulo, domingo, 10 de outubro de 2004

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EFEITO PETRÓLEO

O petróleo e o gás natural respondem por 60% da matriz energética mundial. As empresas de petróleo se tornaram as maiores corporações do mundo em termos de faturamento. Após a criação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), que concentra 78% das reservas mundiais e 38% da produção, os EUA começaram a desregulamentar o processo de formação do preço internacional do petróleo. O preço-alvo, que era regulado pelos EUA até o primeiro choque do petróleo, em 1974, passou a ser o preço mínimo capaz de garantir a rentabilidade das empresas petrolíferas de origem americana. Sob influência norte-americana, a Arábia Saudita, que detém as maiores reservas petrolíferas do mundo, ficou responsável pela regulação de última instância do mercado, expandindo ou contraindo a oferta, de acordo com a demanda e as oscilações de preços nos principais mercados de "commodities", sobretudo na Bolsa de Mercadorias de Nova York e de Londres.
Atualmente, a oferta mundial de petróleo está estimada em 83,6 milhões de barris por dia, sendo que a expansão da atividade econômica internacional em curso produz uma demanda para 81,5 milhões de barris por dia. O aumento da procura, se aproximando da oferta, contribui para fomentar os movimentos especulativos e para a excessiva volatilidade das cotações. Turbulências políticas em qualquer país produtor (no Oriente Médio, na Venezuela, na Nigéria ou na Rússia), notícias referentes à redução da capacidade de transporte ou, ainda, divergências sobre a possibilidade da Opep ou das refinarias de ampliar a oferta no curto prazo tendem a desencadear fortes oscilações de preços.
A alta nas cotações do petróleo, que ultrapassou os US$ 50 o barril na semana passada, não deverá ter grandes impactos no balanço de pagamentos brasileiro, como ocorreu na década de 70. A Petrobras obteve ganhos consideráveis na oferta doméstica, inclusive com avanços tecnológicos na exploração de águas profundas, que já ultrapassou os 2.400 metros. A dependência externa de petróleo e seus derivados caiu de 48,6% em 1993 para 9,4% em 2002. Isso, no entanto, não elimina o contágio nos preços internos.
A Petrobras tem procurado evitar transmitir para os preços internos a excessiva volatilidade das cotações internacionais. Contudo a manutenção da defasagem de preços, que hoje é flagrante, pode ocasionar perdas para a empresa, seus acionistas e refinarias privadas, como Manguinhos e Ipiranga. Desde 14 de junho, quando ocorreu o último aumento da gasolina no mercado brasileiro, o preço do petróleo já subiu 35% no mercado internacional. Nesse contexto, é preciso que a Petrobras atue de maneira realista e evite cair na perigosa tentação de ajustar seus preços às conveniências políticas.


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