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CARLOS HEITOR CONY
Perder para todos
RIO DE JANEIRO - A crise política que abalou governo e PT passou para segundo plano, e daí passará para plano algum, afogada por novas crises.
Comentei ontem, por alto, a greve de
fome de um bispo que é contrário à
transposição das águas do São Francisco. Deveria comentar agora o plebiscito sobre a venda de armas, mas
deixo o assunto para crônica mais
extensa, que publicarei na Ilustrada,
na próxima sexta-feira. Não percam.
Do contrário, o perdido será o cronista, que poderá perder o emprego.
Não pretendo votar no plebiscito, a
lei me garante esse direito -e mesmo que não houvesse o direito, não
votaria. Independentemente do mérito da questão, acho que é escapismo
do governo criar uma polêmica sobre
um assunto naturalmente polêmico,
que divide opiniões e interesses, futebolizando contra ou a favor de determinado time, os que são contrários
ou favoráveis ao comércio de armas.
O bem e o mal obviamente em luta,
uma luta óbvia, cada time com argumentos e inclinações naturais ou forçadas para a própria causa. Ganhando ou perdendo, ninguém mudará de
opinião.
Se lutar pelo bem e pelo mal resolvesse, ninguém torceria pelo São
Cristóvão, time aqui do Rio que nunca vencia e cuja bandeira cobriu o
caixão do meu pai. Creio que foi o último torcedor do clube, cujos jogadores eram chamados de "alvos" pela
crônica especializada. O uniforme
deles era branco, e o lema era "perder
para todos, menos para o Vasco". Como se vê, uma discriminação, não
importa que causa ou interesse. O fato é que o São Cristóvão perdia sempre, principalmente para o Vasco,
que lhe dava surras homéricas. Um
dos dirigentes do clube chamava-se
Homero, acho que Homero Pereira
ou Homero Ferreira, dá no mesmo.
Dá no mesmo porque estou fugindo
do assunto. Mas brevemente chatearei os possíveis leitores com um artigo
sob o título: "Memórias póstumas de
um carioca assassinado".
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