|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bomba geopolítica
O ANÚNCIO do teste nuclear
norte-coreano coloca o
mundo diante dos riscos
da proliferação. Não será nenhuma surpresa se, diante da nova
realidade geopolítica, Japão e
Coréia do Sul se lançarem em
busca de suas próprias bombas.
O Japão, agora sob a liderança
do premiê nacionalista Shinzo
Abe, já vinha mesmo sinalizando
com uma possível revisão da política antimilitarista adotada
após a derrota na 2ª Guerra.
No plano global, a ampliação
do clube nuclear tende a incentivar os apetites iranianos, o que
traria mais instabilidade ao já
conturbado Oriente Médio. Daí a
importância de uma resposta
inequívoca da ONU.
Ontem mesmo, o Conselho de
Segurança da organização condenou o teste e passou a analisar
a adoção de sanções contra a ditadura norte-coreana. Só que o
país já é tão isolado que a imposição de restrições tende a produzir poucos efeitos concretos .
É difícil saber o que o ditador
Kim Jong Il pretende com a demonstração. Se ele tinha planos
para arrancar concessões e vantagens de seus vizinhos e do Ocidente, jamais deveria ter saído
do campo das ameaças retóricas.
Ao mostrar que já tem a bomba,
ele praticamente nulifica qualquer valor que a suspensão do
programa atômico pudesse ter.
Ao explodir o artefato, Kim
termina de solapar suas relações
com a China, o único país formalmente aliado à Coréia do
Norte. É sobretudo a Pequim
que não interessa um Japão remilitarizado e uma Coréia do Sul
com nervos à flor da pele.
A investida norte-coreana deixa patentes as falhas do sistema
de não-proliferação. É hora de as
grandes potências procederem a
uma ampla revisão de suas políticas desequilibradas. Não dá para os EUA recompensarem a Índia por construir uma bomba e
não esperarem que outros países
se sintam no mesmo direito.
Texto Anterior: Editoriais: O primeiro debate Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A assombração Índice
|