São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 2006

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Bomba geopolítica

O ANÚNCIO do teste nuclear norte-coreano coloca o mundo diante dos riscos da proliferação. Não será nenhuma surpresa se, diante da nova realidade geopolítica, Japão e Coréia do Sul se lançarem em busca de suas próprias bombas.
O Japão, agora sob a liderança do premiê nacionalista Shinzo Abe, já vinha mesmo sinalizando com uma possível revisão da política antimilitarista adotada após a derrota na 2ª Guerra.
No plano global, a ampliação do clube nuclear tende a incentivar os apetites iranianos, o que traria mais instabilidade ao já conturbado Oriente Médio. Daí a importância de uma resposta inequívoca da ONU.
Ontem mesmo, o Conselho de Segurança da organização condenou o teste e passou a analisar a adoção de sanções contra a ditadura norte-coreana. Só que o país já é tão isolado que a imposição de restrições tende a produzir poucos efeitos concretos .
É difícil saber o que o ditador Kim Jong Il pretende com a demonstração. Se ele tinha planos para arrancar concessões e vantagens de seus vizinhos e do Ocidente, jamais deveria ter saído do campo das ameaças retóricas. Ao mostrar que já tem a bomba, ele praticamente nulifica qualquer valor que a suspensão do programa atômico pudesse ter.
Ao explodir o artefato, Kim termina de solapar suas relações com a China, o único país formalmente aliado à Coréia do Norte. É sobretudo a Pequim que não interessa um Japão remilitarizado e uma Coréia do Sul com nervos à flor da pele.
A investida norte-coreana deixa patentes as falhas do sistema de não-proliferação. É hora de as grandes potências procederem a uma ampla revisão de suas políticas desequilibradas. Não dá para os EUA recompensarem a Índia por construir uma bomba e não esperarem que outros países se sintam no mesmo direito.


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